domingo, 26 de junho de 2011

14. SEGREDOS PERVERSOS

PARADA GAY, SÃO PAULO, 2011

[Ele] Desculpe-me, querido, estava com um cara ali.
[Eu] Ah, sim! Aquele rapaz de azul. Sei quem é.
[Ele] Conhece ele?
[Eu] Conheço. Na verdade ele não. Conheço aquele cara de branco ao lado dele, ali.
[Ele] Ah, o amigo que veio com ele.
[Eu] Marido dele, você quis dizer, né?
[Ele] O que???????????????????????
[Eu] Sim, marido. Moram juntos há uns cinco anos.
[Ele] Como assim? A gente estava aos beijos, ao lado do cara?????
[Eu] Sim. Você foi o combustível da trepada que vão dar quando chegar em casa!
[Ele] Você tá inventando isso!
[Eu] Estou não, rapaz! Eu conheci o marido num site de relacionamentos. Saímos, fomos a um café, e bastou um papo pra ele perceber que eu não era como tantos carinhas fáceis que têm por aí. Aí ele abriu o jogo e contou o lance deles. Eles se excitam e apimentam a relação com essa coisa de seduzir outros caras.
[Ele] Cara, isso não existe!
[Eu] Existe sim. É um tipo de perversidade. A psicologia explica. Eu, como não sou psicólogo, não entendo essas coisas. Sou mais a linha “moço certinho”...
[Ele] Meu, mas ele parecia tão estar curtindo ficar comigo.
[Eu] É? E marcaram algum encontro pra outro dia?
[Ele] A gente ficou de ser ver.
[Eu] Muito vago pra quem, como você acabou de me dizer, te curtiu. Se ele curtiu mesmo, ele ia querer seu fone. E não dizer “a gente se vê”.
[Ele] Nossa! Tô muito puto! Você deve ter ficado quando soube, não?
[Eu] Fiquei, mas ao mesmo tempo, ele foi sincero. Ainda dava tempo.
[Ele] Estou com ódio, cara. Ódio. Imagino que eles ainda vão pegar vários caras aqui.
[Eu] Muito provavelmente.
[Ele] Você tem razão. Ele foi muito perverso...
[Eu] Ah, para, vai! Estamos na maior parada gay do mundo. Tirando a minha, tem três milhões e meio de bocas aqui pra você beijar. Bocas que trazem histórias e muitos segredos perversos de vida que você nem desconfia. E é bom nem ficar sabendo. Afinal, sua boca também é bem perversa e guarda um monte de segredos!

domingo, 19 de junho de 2011

13. COMO ME TORNEI UM GAROTO DE PROGRAMA (I)

"Seus truques e confusões
Se espalham pelos pêlos
Boca e cabelo
Peitos e poses e apelos
Me agarram pelas pernas"


Garotos 2 - Leoni


Nota do autor: baseado em fatos reais. Nomes e eventos alterados para preservar a identidade dos envolvidos.



Minha história não é muito diferente da de muitos garotos. Nem as justificativas. Tampouco as desculpas.
Advogado liberal pode ganhar muito dinheiro. Mas não tem férias, décimo terceiro e, se descuidar, não tem nem plano de saúde nem de aposentadoria. Felizmente meu pai tinha quando, de tanto trabalhar, enfiou o carro embaixo daquele caminhão na Marginal Tietê, naquele chuvoso fim de tarde de outubro. Foram meses de internação, tratamentos, cirurgias, remédios e, claro, falta de dinheiro em casa.
Eu estava indo para o terceiro ano de administração no Mackenzie. Assim como minha irmã que ia de metrô e trem para a USP, tive de deixar meu carro a semana inteira na garagem e encarar ônibus.
Não trabalhava. Eu me dedicava aos estudos. Era um aluno de notas 9 ou 10. Os colegas se estapeavam para estar na minha equipe nos trabalhos em grupo. Eu, particularmente, preferia fazer sozinho. Mas, quando começou o terceiro ano, eu precisava mais que um estágio, precisava de emprego pra ajudar nas despesas da família. Meu pai já se recuperava em casa, mas os clientes tinham sumido. Seria uma luta recomeçar. Dinheiro passou a ser contado a cada centavo. Eu não poderia desistir da faculdade. Nem era a vontade do meu pai. Sorte ter meu amigo Wagão (Wagner) que ajudava desde caronas na volta pra casa, até cópias de livros.
E o professor de Organização e Métodos (O e M), o mais temido do Mackenzie, exigiu que comprássemos um livro caríssimo. Quase trezentos reais. E não admitia cópias. “Se você não tem dinheiro para comprar um livro, não tem o direito de estudar aqui”. Naquela noite, Wagão saiu mais cedo. Subi a Consolação à pé para pegar, na Avenida Paulista, o ônibus para ir pra casa. Fui pensando. Tinha anotado quatro fones de empresas que anunciaram estágios no mural da faculdade. Mas eu precisava comprar o livro em uma semana. Onde eu ia arrumar quase trezentos reais?
Foi quando aquele carro preto parou no semáforo fechado na esquina. Que carro! Sempre gostei de carros. Não costumo perder nenhum Salão do Automóvel. Aquele carro era um sonho. Fiquei admirando-o. O semáforo ficou verde e o carro entrou à direita. Continuei subindo a Consolação. Quando eu estava ao lado do cemitério, o mesmo carro dos sonhos parou. O vidro abriu. Um senhor de aproximadamente 50 anos ao volante. Achei que ele fosse me perguntar alguma coisa sobre um caminho, mas...
- Oi, boa noite.
- Boa noite.
- Gostou do carro?
- Muito interessante. Está de parabéns!
- Está a fim de dar uma volta – percebi que ele olhava meu corpo.
- Entra, vamos dar uma volta, e depois, se quiser, podemos esticar no meu apartamento.
- C-Como?
- É! Não está a fim de um programa? Diga quanto você quer, que eu pago.
Terror, medo, excitação, tudo isso passou pela minha cabeça naquele momento. Apenas olhava aquele senhor que com certeza seria um alto executivo de alguma multinacional. Pensava no meu pai, no livro.
- Vamos, diga quanto você quer.
- Trezentos reais
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quarta-feira, 8 de junho de 2011

12. AS ESTRANHAS RAZÕES DO CORAÇÃO

Todo solteiro sonha encontrar um grande amor.
Todos nós temos pré disposição a conhecer alguém com algumas características que nos agradam em especial. Seja no aspecto físico, seja no olhar, no sorriso, nas idéias.
Quando encontramos a pessoa que agrupa algumas (ou muitas) dessas características, claro que ficamos mais antenados, mais atentos.
Permitimo-nos buscar conhecer esta pessoa melhor, de modo a nos permitirmos querer de alguma maneira fazer parte de sua vida.
E, se acontece o encontro, o som da voz, as expressões de seu rosto, a maneira como (nos) olha, e isso acaba nos agradando, a aproximação torna-se ainda mais latente e, se surgir a chamada "química", fica tudo (quase) perfeito.
Pois é. Comigo aconteceu. E não foi uma vez. Ou duas. Ou mesmo, três. Foram quatro. Isso mesmo, recentemente foram quatro pessoas que entraram em minha vida de alguma forma. Mas sua permanência não passou de uma noite.
Sim, isso me preocupa. E muito.
Claro que eu gostaria de viver, de novo, um grande amor. Ter uma companhia seja para um fim de semana no sofá, com pipocas e filme, seja para uma balada.
Sinto falta de alguém para ir ao supermercado fazer as compras da casa (da minha e da dele, por enquanto), comprar roupas, trocar presentes no dia dos namorados, dar ou receber presente de Natal ou aniversário ou aniversário de namoro, passear com meu cachorro pelas ruas de São Paulo, ficar de mãos dadas no cinema, passar protetor solar nas costas quando formos à praia, dormir de conchinha (e acordar "Channel" no dia seguinte), ligar sem motivo só pra dizer que estava pensando naquele momento, enfim.
Mas, como vou viver tudo isso se meu coração está se permitindo paixões efêmeras, "eternas de uma noite só", como se cada encontro fosse apenas (e não é) para a satisfação de um desejo, de um tesão, que não resiste aos primeiros raios de sol da manhã seguinte?
O que tem me servido de (algum) consolo é que as quatro pessoas que eu me permiti "algo a mais" também desapareceram. Seu MSN, antes sempre online para trocarmos longas conversas passou a sempre estar offline. Se antes, meu celular sempre tocava, ou quando eu ligava, sempre era atendido antes do terceiro toque, hoje ele sempre está fora de área, tampouco recebo torpedos. E é até bom, porque alguém do outro lado não se envolveu. Ou seja, não sofreria um sentimento que eu não teria para dar no dia seguinte.
O coração tem, sim, razões que a própria razão desconhece. E se o meu tem as suas, eu só sei de uma coisa: a partir de agora, eu vou buscar, nas minhas razões que EU conheço, aquelas que vão dar razão para ele não deixar sentimentos, oportunidades e possibilidades que acontecem num encontro, se dissolverem depois de uma noite de sexo e sono. Ficar só reclamando em nada resolverá. O importante é agir.
Eu quero ser feliz. E vou ser feliz ao lado de alguém feliz comigo. Então, querer é poder. Grande amor: aí vou eu!!!