quarta-feira, 30 de março de 2011

ep. 03 - TRANSAS E CARETAS *

NUM BAR DA REGIÃO DA RUA AUGUSTA, SÃO PAULO, SEXTA FEIRA, POR VOLTA DE 10 DA NOITE. “ESQUENTA” ANTES DA BALADA.

- Hoje eu quero passar o rodo naquela balada.
- Eu vou ficar contente se conhecer um cara legal.
- Vindo de você... Tá achando que vai achar seu marido hoje à noite?
- Não, nem tenho esta pretensão, mas quero encontrar alguém legal. Conversar, entre um beijo e outro, saber o que pensa, o que...
- [Interrompendo] Você com essa mania romântica e chata, pelo amor de Deus!
- Chata por que? Não vou ficar com você!
- Essa coisa de “amor eterno de uma noite só” faz você e ele perderem tempo. Você nem vai levar o cara pra tua casa.
- Não mesmo, não levo desconhecidos pra minha casa!
- Você deveria se permitir mais.
- Eu me permito aquilo que eu estou a fim.
- Mas não é legal.
- Não é legal pra quem?
- Eu não conseguiria.
- Por isso que você vai beijar vários, né?
- Com toda a certeza!
- E vai encher a cara para isso, não?
- Também não sou assim, uma puta, né? Não de cara limpa. Por isso vou beber!
- Pra não lembrar de vários amanhã?
- Eu quero que se foda, e até rolar uns sarros nos cantos escuros. Quero enfiar a mão dentro da calça de vários caras gostosos.
- Ah, e tudo isso sem camisa!
- Você acha que eu malho há anos pra que? Meu peitoral sarado chama a atenção dos homens. Você não precisa, já tem um corpo bonito!
- Eu ainda prefiro um homem que tire a roupa só pra mim.
- E de que adianta querer um homem que fique nu para você, se vai voltar pra casa sozinho, vai dormir sozinho, vai acordar sozinho e passar o sábado sozinho, se preparando pra repetir tudo isso amanhã à noite?
- Lógico, e o esquenta será de novo com você...
- Sabe? Apesar desse seu jeito todo comportadinho, eu gosto pra caramba de você! Acho que é o único amigo que eu tenho que verdadeiramente me compreende, não me pede nada em troca da amizade, sei que posso contar sempre...
- Do mesmo jeito que eu sei que sempre conto contigo.
- Apesar das diferenças, amigos!
- Amigos.
- Vou comprar uma cerveja pra gente brindar.
- Brindo com guaraná. Traga um pra mim!

* Novela de Lauro César Muniz, exibida na Globo em 1984 às 7 da noite. Contava a estória de Thiago (José Wilker) e Jordão (Reginaldo Faria), irmãos. O primeiro, todo moderno, transado, à frente do seu tempo. O segundo, tradicional, um verdadeiro caretão. Mesmo irmãos, totalmente diferentes. Mesmo diferentes, sempre unidos. Até quando se apaixonaram pela mesma mulher, Marília (Natália do Vale).

domingo, 27 de março de 2011

ep. 02 - "O JEITO É..."

Quando eu parei pra prestar atenção à música do Michel Telló, "Fugidinha", na hora me veio a certeza: a letra tem muitos indícios gays.

1. Isso é típica coisa de quem está no armário. Construiu uma imagem para os outros, quando na verdade esconde quem é de fato.
2. Gay, quando não quer se entregar, refere-se à sua paquera, ou seu/sua parceiro (a) de forma genérica, utilizando o termo PESSOA.
3. Por que ninguém pode saber? Alguém que esteja solteiro ou solteira pode ficar com quem quiser, certo? Desde que com quem for ficar não seja comprometido/a, o que aqui não parece ser o caso.
4. Todo gay sonha em viver longe de tudo e todos que conhece para poder viver seu amor sem cobranças.

Leia a letra da música.

Tô bem na parada
Ninguém consegue entender
Chego na balada
Todos param pra me ver
Tudo dando certo
Mas eu tô esperto
Não posso botar tudo a perder (1)

Sempre tem aquela
Pessoa (2) especial
Que fica na dela
Sabe seu potencial
E mexe comigo
Isso é um perigo
Logo agora que eu fiquei legal

Tô morrendo de vontade de te agarrar
Não sei quanto tempo mais vou suportar
Mas pra gente se encontrar
Ninguém pode saber (3)
já pensei e sei o que devo fazer

O jeito é dar uma fugidinha com você
O jeito é dar uma fugida com você
Se você quer
Saber o que vai acontecer
Primeiro a gente foge (4)
Depois a gente vê.

sábado, 12 de março de 2011

ep. 01 - SINAL FECHADO

ESTE TEXTO É PURA FICÇÃO. QUALQUER SEMELHANÇA COM FATOS, PESSOAS OU ACONTECIMENTOS REAIS, É PORQUE ACONTECEU COM ALGUÉM.

Avenida Nove de Julho, São Paulo. Um domingo qualquer do inverno de 2010, 4 horas da tarde.
Rui retornava da casa de Ronaldo, seu namorado havia 7 anos. Dormira lá. Mais uma noite. Jantaram e depois curtiram uma balada que foi terminar de manhã em mais uma transa alucinante.
Rui não está plenamente satisfeito. Há uns bons meses Ronaldo recusa-se a ser passivo. Por mais que Rui quisesse, pedisse, Ronaldo estava irredutível. Dizia sentir-se mais à vontade sendo o ativo. O relacionamento até melhorara. Ronaldo estava ainda mais apaixonado, mais atencioso, mais presente, mais carinhoso, mais cuidadoso.
Mas só ser passivo começava a incomodar Rui.
Ele percebera que reparava mais nos bolsos de trás das calças e bermudas dos garotos que vê na rua, no cinema, nas baladas.
Sim, seu pau sentia falta de uma bunda gostosa. Ainda que bunda nenhuma de São Paulo fosse tão gostosa quanto a de Ronaldo. Aliás, homem nenhum em São Paulo era tão sedutor e apaixonante quanto Ronaldo.
O semáforo de um dos cruzamentos fecha. Rui para ao lado de um carro e ele percebe que o motorista olha pra ele. Rui não desvia o olhar. A troca de sorrisos discretos surge e em seguida um sinal. Rui consegue pensar em Ronaldo, mas de repente quem está conversando com aqueles olhos no carro ao lado é seu pau. “Que mal tem, se ele não souber de nada? Vai que o cara é passivo?” – pensou.
O sinal abriu e eles foram emparelhados até um cruzamento onde entraram e pararam os carros. Apresentaram-se e... bingo!, o rapaz era realmente passivo. E, melhor, morava só! Rui aceitou o convite para ir à casa do rapaz!
Março de 2011. Ronaldo e Rui já fizeram 8 anos de namoro. Cada vez mais apaixonados, felizes, românticos e carinhosos. Mas Rui continua prestando bastante atenção ao carro do lado toda vez que o semáforo fica vermelho.