sábado, 30 de julho de 2011

19. AMOR... A TRÊS (?)

- Alô?
- Oi, sou eu.
- Tudo bem, meu querido?
- Tudo em ordem. Quer dizer... Preciso falar com você.
- Diga!
- Por telefone não. Prefiro pessoalmente.

(…)

- E então, o que de tão importante você quer falar comigo?
- Por que você não me contou?
- Contar o que?
- Que você e ele já ficaram?
- Você sabe que eu não sou de ficar falando com quem eu transo.
- Mas ele me contou. E você confirma...
- Sim, mas isso foi há dois anos. Eu nem te conhecia nesta época.
- Você tinha de ter me contado.
- Claro que não tinha.
- Mas a gente é amigo!
- Você é meu amigo, ele é meu amigo, há um mês eu apresentei vocês dois, vocês se apaixonaram. Você vai vir me cobrar algo que aconteceu há dois anos?
- Isso mesmo, eu sou seu amigo. Eu deveria saber.
- Rapaz, mas que diferença faz com quem ele transou ou deixou de transar antes de conhecê-lo, por que você insiste nesse assunto sem sentido algum?
- Porque eu sou seu amigo.
- É?
- Sim.
- Então, por essa sua linha de raciocínio, concorda que eu também deveria contar pra ele que eu, que te conheço há bem menos tempo, também já transei com você?

domingo, 24 de julho de 2011

18. OVER (Amy Wine) DOSE

Agradecimentos a Duxty Lykos

Amy Winehouse está morta. A música está de luto. Os fãs, perplexos. Mas, como disse Nelson Mota no Jornal Nacional, “crônica de uma morte anunciada”. Sim. Talentosa ao extremo, uma artista completa, dona de uma voz encantadora e de músicas que conquistaram multidões ao redor do planeta. E de uma intensidade de vida notável. Dentro e, sobretudo, fora dos palcos. E aí me veio a reflexão: quantas Amy Winehouses existem ao nosso redor?
Sim. Quantas vezes não se falou ou ouviu a expressão “viver a vida intensamente”? E o que é viver intensamente?
Cada ser humano pode produzir uma definição diferente para essa pergunta, mas atitudes acabam seguindo um padrão perturbadoramente perigoso em muitos casos. Só para citar um exemplo, o comportamento de pessoas nos seus momentos de lazer.
É impressionante a relação delas com excessos. Quantas vezes encontramos pessoas totalmente alcoolizadas, desprovidas de qualquer discernimento, em nome do tal prazer em viver a vida intensamente?
Pessoas que vivem sentimentos de forma arrebatadora, visceral, e acabam escravas dele. Amam e odeiam com a mesma intensidade de um avião em rota de decolagem. E quase se destroem ao perder o rumo desse amor. E não é apenas o amor entre duas pessoas, mas por coisas, pelo trabalho, por projetos. E se escondem atrás dos alucinógenos, como se fossem morfina injetada no coração.
Ou então, os tímidos, justificando-se como a única maneira de conseguirem se soltar, de mostrar-se para os outros o que têm de melhor, mergulham em cinco, seis copos de vodca com energético? Só para conseguir ter um flerte, um encontro, um beijo ou uma transa? E no dia seguinte, como é que sua conquista irá lidar com o tímido quando o efeito dos barbitúricos tiver passado?
Balinhas, pílulas, maconha, cocaína, crack, oxy, entre tantas, todas associadas a muito álcool, muitos corpos sem camisa bombados em academia ao longo de semanas de muito ferro puxado, ao som eletrizante do psy e afins produzem uma geração de pessoas que sempre precisarão de muletas para poder dar um passo à frente nas relações sociais, muitas vezes imitando comportamentos dos colegas.
Valores tornam-se perigosos a partir do momento em que se deturpam conceitos. A intensidade com que muitos “vivem a vida” pode ser perigosa no exato instante em que se usam de elementos que minimizam a força do caráter e da dignidade humana. Drogas e álcool nunca fizeram bem ao ser humano. E muitos dependem desses dois elementos, muitas vezes combinados, para garantir o sucesso de uma empreitada. Sem se preocupar com o dia seguinte.
São pessoas com pressa. “Pressa de viver”, dizem. E pressa é o elemento que nos motiva a chegar mais rápido ao nosso destino. E cada um elegeu seu destino. Cada um sabe onde quer chegar, e principalmente como e quando. Mas, será que vale a pena atropelarmos nossos próprios princípios para atingirmos as metas que nos impomos?
Porque o único destino que sabemos ser comum a TODOS os seres humanos é... a MORTE.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

17. CAIM E ABEL

Eu namorava havia três anos. Um amor intenso, gostoso, verdadeiro. Aí, num vacilo, minha família ficou sabendo que eu era homossexual e namorava uma mulher.
A casa caiu. Eu já morava no meu apartamento, sozinha. Meu pai parou de falar comigo. Minha mãe, falava só o necessário. E o necessário dela não ia além de grunhidos monossilábicos.
Por incrível que pareça, foi minha irmã que me deu a maior força. Ela é dois anos mais nova que eu, mas tem a turma dela, os amigos dela. Depois do episódio, ela foi o elo de ligação com minha família.
Felizmente, minha namorada esteve ao meu lado e aos poucos fomos quebrando a resistência de meus pais. Eles não eram totalmente receptivos a ela, no entanto, pararam de rejeitá-la. E aos poucos, a paz voltou a reinar em casa. Desta vez, com minha irmã como nossa amiga.
Sou produtora de eventos. Minha namorada é analista de marketing de uma grande empresa, onde trabalha no esquema home working. E foi numa tarde que tive de ir ao Pacaembu, que resolvi passar no apartamento dela.
Logo que cheguei, o porteiro, meu velho conhecido, já mandou que eu subisse. Como tinha a chave, estava tirando-a da bolsa, quando ouvi o som ligado. Ela estava ouvindo meu CD. “Que bom que ela gostou”, pensei enquanto entrava no apartamento. Sim, eu tenho a chave. Percebi que ela estava no banho, foi quando o terror tomou conta de minhas veias, o frio na espinha quase me paralisou. Havia outra mulher tomando banho com ela.
Ao chegar ao banheiro, o terror se transformou em horror. Pelo vidro fosco e molhado do box, eu não podia ser vista. Mas reconheci minha própria irmã com minha namorada. Felizes. Estavam comemorando, justamente naquele dia, seis meses de relacionamento.
Estilhaços de mim caminharam até a porta. Poderia transformar-me numa tigresa enfurecida e acabar com as duas. Com apenas uma lágrima, saí sem ser notada.
Não. Não iria descer ao nível dela. Nada contei. Agi como se estivesse tudo bem.
Até que o porteiro, com sua sede de fofocas e futricas, contasse que tinha aparecido naquela tarde no apartamento dela, eu teria tempo suficiente de preparar minha vingança contra duas das mulheres mais importantes da minha vida. Elas vão se arrepender do dia que resolveram me trair.

sábado, 9 de julho de 2011

16. BANDO DE HIPÓCRITAS

[PAI, PARA O FILHO] Que vergonha! Um filho gay! Era o que faltava. Desse jeito como vou me candidatar à reeleição pra prefeitura da cidade? Que papelão, hein, meu filho?

[MÃE, PARA O FILHO] Você é a nossa desonra! Uma das mais tradicionais famílias desta cidade e agora o filho vem e mancha o nome que seu bisavô criou com tanto empenho!

[IRMÃ, PARA O IRMÃO] Olha aqui, irmãozinho, quer sair com homem, saia, mas por favor, seja discreto, não vai ficar contando pra cidade toda. Já pensou se minhas amigas ficam sabendo?

[IRMÃO, PARA A IRMÃ] Fica sossegada, irmãzinha, eu sou super discreto. Afinal, eu não contei pra Juliana que você dá o cu pro namorado dela. Como eu sei? Vieram me contar no futebol. Ela não curte, então, o namorado dela enraba você!

[FILHO, PARA A MÃE] E, desonra, mãe, foi o que a senhora fez com a pobre coitada da Lurdes. Quase foi demitida pelo papai porque não foi ela que derrubou o vaso ao lado da garagem. Foi a senhora que entrou feito uma alucinada. E ainda a mandou limpar o parachoque do carro.

[FILHO, PARA O PAI] Quanto ao senhor, meu pai, tem alguma moral pra falar em vergonha? O senhor fez aquele engenheiro reformar nosso sítio só para a Secretaria de Obras contratar os serviços dele e poder superfaturar os orçamentos.

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Qualquer semelhança com fatos (sempre tem alguém que conhece um caso safadeza em família ou entre melhores amigos), pessoas (como as mães que vivem de fazer caridade com a língua ferina da fofoca e da mentira) ou acontecimentos reais (igual ao caso recente do helicóptero que caiu no mar e trouxe das profundezas as ligações perigosas de um certo governador) terá sido mera fonte de inspiração para este texto. Nada mais!

sábado, 2 de julho de 2011

15. UM GALÃ DA TV... NA MINHA CAMA

Fui ver uma peça de teatro com um casal amigo. Divertida, com vários atores da TV, foi um bom programa para aquele sábado frio. Depois da peça, fomos a um bar próximo. Eu estava com uma fome absurda.
O bar estava cheio, não lotado. Sentamos numa mesa ao lado de uma grande, reservada para, descobri depois, os atores e produtores da peça.
Logo chegaram. Meus amigos estavam de costas para a mesa deles e eu de frente para ela. Um dos atores da peça, galã da TV, um dos campeões de correspondências, sentou-se bem em minha frente, de frente pra mim. Pude admirar como ele é bonito e que o sorriso é o mesmo da TV, só que a três metros de mim.
Meus amigos falavam dos planos das próximas férias, que queriam ir para a Europa.
Mesmo falando em tom normal, era possível que os assuntos fossem ouvidos. E o galã da TV percebeu que os dois amigos eram namorados. Talvez por isso começou a olhar mais para mim. Logo para mim.
Meus amigos iam esticar para uma balada. Eu, que adoro uma, não estava a fim de ir com eles. E ainda estava com fome. Pedi o cardápio. Quando percebi que o pessoal do teatro começou a ir embora também. Menos o galã da TV.
Ele, sozinho na mesa gigante, quando chegou o seu pedido (junto com o meu), deu um sorriso discreto pra mim, que foi retribuído. Eis que ele pega seu prato, vem até minha mesa e diz, com seu sotaque carioca carregadíssimo: “Posso ficar aqui? Aquela mesa está muito grande”.
Conversamos. E nosso lanche até esfriou. E o relógio girando. O galã da TV era uma pessoa, além de linda, agradável, com um bom papo. O bar ia fechar, e fomos gentilmente convidados a sair. Já tínhamos fechado a conta, levantamos e eu ofereci carona pra ele até seu hotel. Ele disse que era na rua de trás, mas aceitou.
Foi só entrar no meu carro, ele me deu um beijo. E que beijo! Longo, molhado, com paixão, com desejo. Confesso que dei conta do recado. Beijo é algo que não tenho modéstia. Gosto e beijo bem. E ele elogiou o meu.
- Deixa eu passar a noite com você?
- Mas, seu hotel...
- Na sua casa, não pode ser?
- O pessoal não vai estranhar?
- Eu tenho de estar de volta às cinco da tarde.
Acordei perto de meio dia e encontrei o galã da TV sentado na cama, sorrindo pra mim. Ao lado dele, uma bandeja com um belo café da manhã.
- Fui até a sua cozinha e preparei isso pra nós.
- Nossa! Quer me conquistar assim?
- Sim, quero. Porque você já me conquistou.
Café da manhã, banho, amor. Saímos para almoçar no shopping. De lá, fui levá-lo ao hotel. Ao chegar, ele me afagou o cabelo, tirou do bolso um ingresso da peça e disse para eu voltar à noite, que ele queria me ver na platéia.
E à noite lá estava eu. E eu percebi que ele me olhou várias vezes durante a encenação.
Quando acabou, uma pessoa pediu que eu aguardasse um instante. Ele, então, veio até a mim e me convidou para jantar.
- Mas você não vai pegar o avião pro Rio?
- Resolvi ficar essa semana em São Paulo. Não estou trabalhando em novela e não tem nada importante pra eu fazer no Rio esta semana.
- Vai ficar caro esse hotel. Mas gostei de saber.
O galã da TV pegou, sim, o avião para o Rio. No outro domingo. E na noite seguinte, eu estava em Congonhas. Esperando o galã da TV.

BREVE NO "MEIO A MEIO":
- Bando de hipócritas
- Entre irmãos
- (Des)Amor à distância, parte 2