segunda-feira, 31 de outubro de 2011

24. JOGO DA VERDADE


A garrafa girou caprichosamente, passando por mim, pela Dani(ela), pela Márcia, pelo Ale(ssandro), por sua namorada Gi(sele), pelo Bruno, pela Bia, pela Fa(biana) e parou em mim. Seria eu a perguntar. Resolvi jogar o dado: números ímpares, verdade. Números pares, desafio. O dado mostrou o número 4. Girei a garrafa de novo. Parou na Dani.
Lancei o desafio. Os seis restantes se alinharam e pedi que Dani jogasse o dado. Em quem o dado apontasse, ela teria de lamber um dos mamilos. Parou no número da Gi. Alê não gostou muito, mas deixou que Dani lambesse o mamilo da namorada. Como eu não disse se era com ou sem roupa, valeu que Gi não tirasse a blusa. Desafio cumprido e a certeza que a vingança viria, mais cedo ou mais tarde.
Algum tempo depois, a garrafa parou na Dani. Ela olhou pra mim e pegou o dado. Seis! E, já antevendo a bomba, esperei a garrafa parar apontada para mim para cumprir o desafio. E confesso que me assustei quando Dani pediu que eu escolhesse um dos homens do jogo para dar um beijo na boca e que não fosse selinho.
Por respeito a Gi, não escolheria, claro, Alê. Olhei para Bruno e falei: não vai ter jeito. E aconteceu., sobre aplausos e gritos das meninas. Não sei como a síndica de Fá não ligou para nós aquela hora da madrugada. Benditas cervejas e vinhos que nos permitiram anestesiar a lógica do raciocínio e embarcar na loucura ébria do jogo.
Acordei no dia seguinte com vergonha do mundo. Não pelo beijo que eu e Bruno trocamos, mas por ter sentido um tesão como mulher nenhuma que eu beijara antes tivesse me proporcionado. Sentia o perfume dele, tinha o gosto de minha boca em minha saliva, e isso me deixava excitado o tempo todo. Enfim, queria ver Bruno, embora não soubesse se teria coragem de encará-lo.
E foi à noite que nos encontramos. No bar, eu, Bia e Fá, quando ele chegou com Gi, Dani, Márcia e Alê.
Ninguém tocou no assunto da noite anterior, mas era visível o desconforto tanto meu quanto dele. E eram visíveis também nossas trocas de olhares. Gi e Alê logo se foram. Iriam para um motel para coroar o fim de semana. Depois, Fá e Bia também foram embora.
Foi minha vez de ir. Precisava passar numa farmácia. Quando eu paguei a conta e saí, um SMS no meu celular: “preciso falar com você”. Gelei. Era de Bruno. Uma hora depois, estávamos num outro bar, perto da rua Augusta.
Ele também estava dividido em seus sentimentos. A vergonha pelo primeiro beijo com outro homem e a vontade de repeti-lo. Num rompante de loucura e desejo, chamei-o para meu apartamento.
E lá, sobre a proteção de minha privacidade, nos entregamos ao nosso desejo de forma intensa, viceral, como jamais havia me entregado antes. E nunca havia sentido alguém se entregar a mim como aquele homem se entregou. Como dois animais no cio, como dois homens loucos de tesão, desejo, fúria, mas com um romantismo e carinhos nunca sentidos. Por ambos.
Aquele corpo com pelos, peito sem seios, barba na cara tocando minha pele, pernas peludas entrelaçadas. Cheiro de machos, gemidos de machos, desejos de machos, pegadas de machos. E foi com aquele macho que eu dormi aquela noite.
Abraçados.
Domingo passado eu e Bruno reunimos os amigos em meu apartamento. Os oito que estavam naquele Jogo da Verdade. E anunciamos que aquela noite fazia um ano que eu e Bruno estávamos juntos. E que queríamos dividir isso com eles.
Todos, entre a surpresa, a perplexidade, e a alegria, nos cumprimentaram, Dani exigiu ser a madrinha.
E todos pediram para ver, de novo, um beijo meu e de Bruno.