domingo, 4 de dezembro de 2011

25. SER GAY É... (parte 2)

21. Ter de sussurrar ao telefone no trabalho, conversando com um amigo ou namorado, para que não se ouça a conversa, enquanto o colega da baia ao lado fala no dele pra toda empresa escutar: “E aí gostosa, vamos num motelzinho hoje?”
22. Ter de ser masculinos e acima de qualquer suspeita, mas soltar a franga com os amigos mais íntimos.
23. Ter de entender e achar muito legal umas expressões e gírias indecifráveis como: “uó”, “alibã”, “edi”, “aquendar”, etc.
24. Ter o celular mais moderno do mercado com câmera digital e internet pra tirar foto da balada com os amigos e colocar no facebook. Em tempo real. E o programa Grindr instalado, com uma foto que mostra o peito (não precisa mostrar o rosto).
25. Ter um secador de cabelos no banheiro.
26. Ter de ser educadíssimos.
27. Ter de falar inglês... viado que não sabe Inglês é considerado analfabeto. E também falar outros dois idiomas fluentemente, ainda que não fale e escreva o Português corretamente.
28. Tem de considerar uma ideia interessante transar a 3, a 4, a 7, a 23, a 42, etc, mesmo que não faça.
29. Ter pelo menos 2 namorados por ano, e cada namoro deve durar de 2 a 3 meses.
30. Ter de ser infiéis. E negar a infidelidade até a morte.
31. Ter de gostar de música eletrônica, mesmo que seja irritante e dê dor de cabeça.
32. Tem de saber conversar sobre política, religião, artes, filosofia, fofoca... menos sobre esportes.
33. Ter de fingir que se vai à Parada Gay pela causa e não pela pegação.
34. Ter de gostar de toda cantora americana peituda de cabelo alisado que grita mais do que canta.
35. Ter de aturar a pergunta de mamãe ou de vovó em toda reunião familiar: “quando você vai arrumar uma noiva, filhinho?”
36. Ter de ser bom de cama.
37. Ter de ter cabelo bom... se não for bom, que seja arrumado. De preferência, no gel.
38. Ter de ir ao Salão de Beleza, nunca ao Barbeiro.
39. Ter de ser inteligentes.
40. Ter de parecer cultos. Nem que a cultura seja a de uma revista Caras.

Se você quer conhecer os vinte primeiros itens, clique aqui. E aguarde, que em breve serão mais vinte.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

24. JOGO DA VERDADE


A garrafa girou caprichosamente, passando por mim, pela Dani(ela), pela Márcia, pelo Ale(ssandro), por sua namorada Gi(sele), pelo Bruno, pela Bia, pela Fa(biana) e parou em mim. Seria eu a perguntar. Resolvi jogar o dado: números ímpares, verdade. Números pares, desafio. O dado mostrou o número 4. Girei a garrafa de novo. Parou na Dani.
Lancei o desafio. Os seis restantes se alinharam e pedi que Dani jogasse o dado. Em quem o dado apontasse, ela teria de lamber um dos mamilos. Parou no número da Gi. Alê não gostou muito, mas deixou que Dani lambesse o mamilo da namorada. Como eu não disse se era com ou sem roupa, valeu que Gi não tirasse a blusa. Desafio cumprido e a certeza que a vingança viria, mais cedo ou mais tarde.
Algum tempo depois, a garrafa parou na Dani. Ela olhou pra mim e pegou o dado. Seis! E, já antevendo a bomba, esperei a garrafa parar apontada para mim para cumprir o desafio. E confesso que me assustei quando Dani pediu que eu escolhesse um dos homens do jogo para dar um beijo na boca e que não fosse selinho.
Por respeito a Gi, não escolheria, claro, Alê. Olhei para Bruno e falei: não vai ter jeito. E aconteceu., sobre aplausos e gritos das meninas. Não sei como a síndica de Fá não ligou para nós aquela hora da madrugada. Benditas cervejas e vinhos que nos permitiram anestesiar a lógica do raciocínio e embarcar na loucura ébria do jogo.
Acordei no dia seguinte com vergonha do mundo. Não pelo beijo que eu e Bruno trocamos, mas por ter sentido um tesão como mulher nenhuma que eu beijara antes tivesse me proporcionado. Sentia o perfume dele, tinha o gosto de minha boca em minha saliva, e isso me deixava excitado o tempo todo. Enfim, queria ver Bruno, embora não soubesse se teria coragem de encará-lo.
E foi à noite que nos encontramos. No bar, eu, Bia e Fá, quando ele chegou com Gi, Dani, Márcia e Alê.
Ninguém tocou no assunto da noite anterior, mas era visível o desconforto tanto meu quanto dele. E eram visíveis também nossas trocas de olhares. Gi e Alê logo se foram. Iriam para um motel para coroar o fim de semana. Depois, Fá e Bia também foram embora.
Foi minha vez de ir. Precisava passar numa farmácia. Quando eu paguei a conta e saí, um SMS no meu celular: “preciso falar com você”. Gelei. Era de Bruno. Uma hora depois, estávamos num outro bar, perto da rua Augusta.
Ele também estava dividido em seus sentimentos. A vergonha pelo primeiro beijo com outro homem e a vontade de repeti-lo. Num rompante de loucura e desejo, chamei-o para meu apartamento.
E lá, sobre a proteção de minha privacidade, nos entregamos ao nosso desejo de forma intensa, viceral, como jamais havia me entregado antes. E nunca havia sentido alguém se entregar a mim como aquele homem se entregou. Como dois animais no cio, como dois homens loucos de tesão, desejo, fúria, mas com um romantismo e carinhos nunca sentidos. Por ambos.
Aquele corpo com pelos, peito sem seios, barba na cara tocando minha pele, pernas peludas entrelaçadas. Cheiro de machos, gemidos de machos, desejos de machos, pegadas de machos. E foi com aquele macho que eu dormi aquela noite.
Abraçados.
Domingo passado eu e Bruno reunimos os amigos em meu apartamento. Os oito que estavam naquele Jogo da Verdade. E anunciamos que aquela noite fazia um ano que eu e Bruno estávamos juntos. E que queríamos dividir isso com eles.
Todos, entre a surpresa, a perplexidade, e a alegria, nos cumprimentaram, Dani exigiu ser a madrinha.
E todos pediram para ver, de novo, um beijo meu e de Bruno.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

23. ANJOS E PECADORES

Ao chegar à cidade litorânea onde tenho uma casa, vi uma faixa num poste onde a prefeitura da Praia Grande (SP) saudava os participantes de um evento esportivo-religioso.
Fui dormir depois das 3 da manhã e acordei no sábado às nove. Levei o cachorro para passear no calçadão, comprei o almoço, dei comida pro cachorro, fui para a praia e, em seguida, comprar algumas coisinhas pra equipar ainda mais a casa para eventuais locações no verão. Levei o cachorro agora para nadar no mar e à noite comprei uma pizza e mal esperei a “aaaaaaaaai, como eu tô bandida” da Valéria Vasques detonar sua amiga babuína e sempre bolinada Janete para desmaiar.
Sete da manhã estava acordado. Levei de novo o cachorro para o calçadão e antes das 9 eu estava na praia, caminhando junto ao mar, esperando o sol, ainda escondido atrás de um forte nevoeiro. Na areia, só os ambulantes preparando seus carrinhos aguardando os turistas que certamente ainda dormiam.
Foi quando avistei um homem, ao longe, fazendo sua corrida matinal. Usava apenas um short preto e tinha uma camiseta branca enrolada em uma de suas mãos. À medida que se aproximava, notei seu belo corpo, não malhado, mas definido. A pele morena, quase tendendo ao tom mulato, transpirava charme e sedução. Tirei os óculos escuros para que ele percebesse, ao passar por mim, que eu o olhava. Quando chegou perto, percebi que seus olhos miravam os meus. Passei o olhar por todo seu corpo e percebi que ele fez o mesmo. Reduziu os passos e parou ao meu lado.
- Você mora aqui?
- Não. Moro em São Paulo. E você?
- Sou do Mato Grosso, vim para os jogos.

Ele desistiu da corrida e caminhou conversando comigo pela praia. Tirou o tênis e, mesmo reclamando da água gelada, entrou no mar, para tirar o suor do corpo.
O sol apareceu quente, queimando nossa pele. O papo fluía de forma natural. Ele disse ter 32 anos, e trabalhava como orientador. Eu disse apenas “ok”, mas meu olhar completou a frase: “e eu sou o verdadeiro dono da Rede Globo”. Por volta de meio dia, convidei-o para almoçar. Ele aceitou e fomos a um restaurante perto de casa. Ele falou onde estava hospedado e eu concluí que a pousada ficava na rua de trás, bem na direção de minha casa.
Ao terminar o almoço, disse que precisava ir para dar (mais) comida e água ao cachorro. Ele quis conhecê-lo, e levei-o.
Os dois brincaram lá fora, enquanto eu preparava comida e água gelada para o cachorro. Ele, então, veio pra dentro e, ali, sozinhos, ele soltou um elogio a mim:
- Você é muito bonito, inteligente, um homem iluminado.
- Pois sabe que eu penso o mesmo sobre você?

Um abraço, um beijo, e uma tarde de amor em nossa cama. Exaustos, mas felizes, plenos, ele com a cabeça em meu peito, disse:
- Tenho algo sério a falar a você...
O que ele tinha a dizer, eu já sabia. Pensei até que pudesse ser algo mais sério, como dizer que era soropositivo para o HIV, mas tivemos todos os cuidados.
- Eu sou padre.
- Eu sei. Você é muito culto, muito inteligente, muito articulado. Um “orientador” de seu fiel rebanho paroquial.

Ficamos juntos o resto do domingo. Voltamos à praia para levar o cachorro, comemos uma pizza e .ele me fez ligar avisando quando chegasse em casa em São Paulo. Ele ainda ficaria aquela semana toda na praia.
Trocamos mensagens, telefonemas todos os fins de noite. E na sexta-feira, lá estava eu na Rodovia dos Imigrantes rumo à Praia Grande.
No exato instante em que o Padre fechava a conta na pousada.
No fim de semana, o Padre estaria hospedado em meus braços!

domingo, 11 de setembro de 2011

22. O HOMEM CASADO

Eu e Tânia somos mais que amigos. Além de trabalharmos na mesma empresa, que tem unidades espalhadas por São Paulo e pelo país todo, ficamos amigos fora do ambiente corporativo, confidentes. E, claro, parceiros das noitadas.
E numa dessas, ela me comunicou que uma amiga, Vera, iria junto. Tânia nunca entrou em detalhes, mas Vera a incomoda profundamente. E uma das razões é que Tânia serve de escada para seus esquemas. Vera mora em outro estado, mas sempre acompanha o namorado, Cássio, quando ele vem a trabalho a São Paulo. E naquela noite estávamos os quatro na balada.
Ao final, fomos a uma padaria. Vera começou com umas insinuações sobre o fato de eu ter ficado com um cara na balada. Claro que eu não gostei e soltei uma resposta elegantemente atravessada, que constrangeu seu namorado e Tânia.
Dois dias depois, um pedido de amizade no meu facebook. Cássio. Aceitei. Na troca de mensagens inbox, ele pediu meu MSN. E lá conversamos sobre a noite de sábado, ele pediu desculpas por Vera, etc. A conversa foi bacana mas um tanto esquisita. Percebi, nas entrelinhas e entreletras, um interesse acima do normal dele por mim. Liguei o alerta.
Um mês depois, Cássio me avisa que viria de novo a São Paulo. Falei que falaria com Tânia para sairmos, mas ele disse que conseguiu se livrar de Vera, e viria sozinho. Achei estranho aquilo. Mas liguei pra Tânia. Ela ficou perplexa, mas disse que não poderia sair, pois teria uma prova no domingo de algum concurso interno da empresa.
No sábado, fui buscar Cássio no hotel e perguntei onde ele gostaria de ir. Disse que eu era o cicerone, e onde eu fosse, ele iria. Mesmo que fosse a uma balada GLS.
Fomos a um bar GLS. Aí ele me contou sua história. Ele não é namorado de Vera. É amante. Cássio é casado, tem dois filhos, e Vera é um caso seu que ele está louco pra se livrar. Sobretudo porque ela está começando a fazer pressão pra ele largar da esposa. Ainda mais que ela foi transferida para a unidade que ele trabalha. O que Vera não sabe é que ele está de saída para fazer parte de uma diretoria em São Paulo. Nisso toca meu telefone. Era Tânia. Vera não parava de ligar pra ela, desesperada, porque Cássio simplesmente tinha sumido. E Tânia não falou que ele estava em São Paulo.
Perguntei a Cássio se ele não estava constrangido de estar num lugar GLS e aí veio a resposta que me deixou apavorado e ao mesmo tempo com um tesão enlouquecedor: A única pessoa que interessava ali era eu, e que ele gostaria muito de me conhecer melhor, depois que soube que eu era gay.
Atire a primeira pedra quem nunca saiu com um homem casado.
E ter passado a noite com aquele homem que, segundo ele diz (e eu insisto em não acreditar inteiramente), nunca tinha tocado outro homem antes, foi bom demais. Tanto que quando ele vinha a São Paulo, enquanto não saía sua transferência, não ficava mais em hotel, mas na minha casa. E dormia na minha cama.
Claro, contei tudo para Tânia. Com ela não tinha segredos.
E, o mais legal, foi ver a satisfação de Tânia cada vez que Vera vinha lhe jogar um ar superior. Aliás, Vera adorava deixar claro que ela era a tal. A poderosa, a senhora de si. A autoconfiante. A bem sucedida profissionalmente. Mas, o homem dela vinha sempre a São Paulo gozar mais intensamente na minha cama, e não na de Vera.

domingo, 14 de agosto de 2011

21. COMO TRANSFORMAR UM BAR HÉTERO NUM BAR GAY


01. Vá com mais cinco amigos a um bar qualquer, de preferência desses que tenham mesas na calçada.
02. Que todos os amigos tenham internet no celular.
03. Ao chegar ao local, façam check in e publiquem no Facebook.
04. Em hipótese alguma soltem a franga.
05. Tratem bem os garçons, sem jamais passar-lhes cantadas.
06. Comentem sobre acontecimentos envolvendo vocês em alguma balada gay, de modo que as pessoas das mesas próximas escutem (em bares com mesas na calçada ninguém fala baixo). Exemplo: “Lembra aquele porre que você tomou na The Week*?” Mas jamais ousem mencionar as partes picantes.
07. Gastem muito. Ainda que a presença de vocês não seja vista com bons olhos pelos outros frequentadores, o gerente não vai pedir-lhes que deixem o local.
08. Elogiem o local e o atendimento – mesmo que vocês não estejam curtindo muito.
09. Se receberem telefonemas de alguém perguntando onde vocês estão (sinal que não viram o check in no Facebook), chamem-no para ir ao bar.
10. Jamais paquerem alguém que esteja numa das mesas. Como vocês escolheram uma na calçada, olhem alguém que passou de carro. E que todo mundo perceba esta paquera (inclusive o povo da mesa ao lado).
11. Publiquem no Facebook, Twitter e afins que vocês adoraram o local e recomendem-no a todos os seus contatos.
12. Retornem na semana seguinte, ocupem a mesma mesa e repitam tudo o que fizeram. Mas comecem a agitar o encontro (também pelas redes sociais) com uns 2 dias de antecedência.

* The Week: a maior e mais badalada casa noturna gay de São Paulo. Até o mais convicto dos héteros já ouviu falar dela.

sábado, 6 de agosto de 2011

20. SER GAY É... (I)

Vinte coisas que um gay "precisa" fazer para ser aceito como tal.

Agradecimentos a Paulinho Dias, direto do Facebook.

01. Nós temos de beber muitas bebidas alcoólicas. E não suportarmos cigarro.
02. Nós temos de depilar todos os pelos.
03. Nós temos de usar camisinha.
04. Nós temos de andar na moda.
05. Nós temos de fazer terapia.
06. Nós não precisamos ter curso superior, mas temos de ganhar bem, seja da maneira que for.
07. Nós temos de considerar a ideia de colocar um piercing.
08. Nós temos de ter pelo menos uma camisa que contenha algum número estampado.
09. Nós não podemos ter ressaca, porque no dia seguinte tem pool party.
10. Nós temos de amar Madonna incondicionalmente.
11. Nós temos de saber tudo sobre os signos e sua influência na vida dos caras que conhecermos.
12. Nós temos de ter o carro mais moderno, ele não poder ser tunado sob qualquer hipótese e mesmo assim, vamos pro trabalho de metrô e pra balada de táxi.
13. Nós temos de caminhar apenas no Ibirapuera em São Paulo, ou no calçadão de Ipanema no Rio.
14. Nós temos de ter pelo menos uma tatuagem que envolva um dragão, símbolos japoneses ou uma inscrição sem sentido em letras góticas.
15. Nós temos de adorar comida japonesa e restaurante tailandês.
16. Nós temos de ir à praia todo fim de semana e se não morar em cidade de praia, fazer bronzeamento artificial.
17. Nós não precisamos ter religião, mas sempre jogar flores pra Iemanjá no fim de ano.
18. Nós temos de comer pouco.
19. Nós temos de viajar sempre de avião e paquerar o comissário.
20. Nós temos de deixar a cueca aparecer.

Você se enquadra em quantas destas? Breve, mais vinte.

sábado, 30 de julho de 2011

19. AMOR... A TRÊS (?)

- Alô?
- Oi, sou eu.
- Tudo bem, meu querido?
- Tudo em ordem. Quer dizer... Preciso falar com você.
- Diga!
- Por telefone não. Prefiro pessoalmente.

(…)

- E então, o que de tão importante você quer falar comigo?
- Por que você não me contou?
- Contar o que?
- Que você e ele já ficaram?
- Você sabe que eu não sou de ficar falando com quem eu transo.
- Mas ele me contou. E você confirma...
- Sim, mas isso foi há dois anos. Eu nem te conhecia nesta época.
- Você tinha de ter me contado.
- Claro que não tinha.
- Mas a gente é amigo!
- Você é meu amigo, ele é meu amigo, há um mês eu apresentei vocês dois, vocês se apaixonaram. Você vai vir me cobrar algo que aconteceu há dois anos?
- Isso mesmo, eu sou seu amigo. Eu deveria saber.
- Rapaz, mas que diferença faz com quem ele transou ou deixou de transar antes de conhecê-lo, por que você insiste nesse assunto sem sentido algum?
- Porque eu sou seu amigo.
- É?
- Sim.
- Então, por essa sua linha de raciocínio, concorda que eu também deveria contar pra ele que eu, que te conheço há bem menos tempo, também já transei com você?

domingo, 24 de julho de 2011

18. OVER (Amy Wine) DOSE

Agradecimentos a Duxty Lykos

Amy Winehouse está morta. A música está de luto. Os fãs, perplexos. Mas, como disse Nelson Mota no Jornal Nacional, “crônica de uma morte anunciada”. Sim. Talentosa ao extremo, uma artista completa, dona de uma voz encantadora e de músicas que conquistaram multidões ao redor do planeta. E de uma intensidade de vida notável. Dentro e, sobretudo, fora dos palcos. E aí me veio a reflexão: quantas Amy Winehouses existem ao nosso redor?
Sim. Quantas vezes não se falou ou ouviu a expressão “viver a vida intensamente”? E o que é viver intensamente?
Cada ser humano pode produzir uma definição diferente para essa pergunta, mas atitudes acabam seguindo um padrão perturbadoramente perigoso em muitos casos. Só para citar um exemplo, o comportamento de pessoas nos seus momentos de lazer.
É impressionante a relação delas com excessos. Quantas vezes encontramos pessoas totalmente alcoolizadas, desprovidas de qualquer discernimento, em nome do tal prazer em viver a vida intensamente?
Pessoas que vivem sentimentos de forma arrebatadora, visceral, e acabam escravas dele. Amam e odeiam com a mesma intensidade de um avião em rota de decolagem. E quase se destroem ao perder o rumo desse amor. E não é apenas o amor entre duas pessoas, mas por coisas, pelo trabalho, por projetos. E se escondem atrás dos alucinógenos, como se fossem morfina injetada no coração.
Ou então, os tímidos, justificando-se como a única maneira de conseguirem se soltar, de mostrar-se para os outros o que têm de melhor, mergulham em cinco, seis copos de vodca com energético? Só para conseguir ter um flerte, um encontro, um beijo ou uma transa? E no dia seguinte, como é que sua conquista irá lidar com o tímido quando o efeito dos barbitúricos tiver passado?
Balinhas, pílulas, maconha, cocaína, crack, oxy, entre tantas, todas associadas a muito álcool, muitos corpos sem camisa bombados em academia ao longo de semanas de muito ferro puxado, ao som eletrizante do psy e afins produzem uma geração de pessoas que sempre precisarão de muletas para poder dar um passo à frente nas relações sociais, muitas vezes imitando comportamentos dos colegas.
Valores tornam-se perigosos a partir do momento em que se deturpam conceitos. A intensidade com que muitos “vivem a vida” pode ser perigosa no exato instante em que se usam de elementos que minimizam a força do caráter e da dignidade humana. Drogas e álcool nunca fizeram bem ao ser humano. E muitos dependem desses dois elementos, muitas vezes combinados, para garantir o sucesso de uma empreitada. Sem se preocupar com o dia seguinte.
São pessoas com pressa. “Pressa de viver”, dizem. E pressa é o elemento que nos motiva a chegar mais rápido ao nosso destino. E cada um elegeu seu destino. Cada um sabe onde quer chegar, e principalmente como e quando. Mas, será que vale a pena atropelarmos nossos próprios princípios para atingirmos as metas que nos impomos?
Porque o único destino que sabemos ser comum a TODOS os seres humanos é... a MORTE.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

17. CAIM E ABEL

Eu namorava havia três anos. Um amor intenso, gostoso, verdadeiro. Aí, num vacilo, minha família ficou sabendo que eu era homossexual e namorava uma mulher.
A casa caiu. Eu já morava no meu apartamento, sozinha. Meu pai parou de falar comigo. Minha mãe, falava só o necessário. E o necessário dela não ia além de grunhidos monossilábicos.
Por incrível que pareça, foi minha irmã que me deu a maior força. Ela é dois anos mais nova que eu, mas tem a turma dela, os amigos dela. Depois do episódio, ela foi o elo de ligação com minha família.
Felizmente, minha namorada esteve ao meu lado e aos poucos fomos quebrando a resistência de meus pais. Eles não eram totalmente receptivos a ela, no entanto, pararam de rejeitá-la. E aos poucos, a paz voltou a reinar em casa. Desta vez, com minha irmã como nossa amiga.
Sou produtora de eventos. Minha namorada é analista de marketing de uma grande empresa, onde trabalha no esquema home working. E foi numa tarde que tive de ir ao Pacaembu, que resolvi passar no apartamento dela.
Logo que cheguei, o porteiro, meu velho conhecido, já mandou que eu subisse. Como tinha a chave, estava tirando-a da bolsa, quando ouvi o som ligado. Ela estava ouvindo meu CD. “Que bom que ela gostou”, pensei enquanto entrava no apartamento. Sim, eu tenho a chave. Percebi que ela estava no banho, foi quando o terror tomou conta de minhas veias, o frio na espinha quase me paralisou. Havia outra mulher tomando banho com ela.
Ao chegar ao banheiro, o terror se transformou em horror. Pelo vidro fosco e molhado do box, eu não podia ser vista. Mas reconheci minha própria irmã com minha namorada. Felizes. Estavam comemorando, justamente naquele dia, seis meses de relacionamento.
Estilhaços de mim caminharam até a porta. Poderia transformar-me numa tigresa enfurecida e acabar com as duas. Com apenas uma lágrima, saí sem ser notada.
Não. Não iria descer ao nível dela. Nada contei. Agi como se estivesse tudo bem.
Até que o porteiro, com sua sede de fofocas e futricas, contasse que tinha aparecido naquela tarde no apartamento dela, eu teria tempo suficiente de preparar minha vingança contra duas das mulheres mais importantes da minha vida. Elas vão se arrepender do dia que resolveram me trair.

sábado, 9 de julho de 2011

16. BANDO DE HIPÓCRITAS

[PAI, PARA O FILHO] Que vergonha! Um filho gay! Era o que faltava. Desse jeito como vou me candidatar à reeleição pra prefeitura da cidade? Que papelão, hein, meu filho?

[MÃE, PARA O FILHO] Você é a nossa desonra! Uma das mais tradicionais famílias desta cidade e agora o filho vem e mancha o nome que seu bisavô criou com tanto empenho!

[IRMÃ, PARA O IRMÃO] Olha aqui, irmãozinho, quer sair com homem, saia, mas por favor, seja discreto, não vai ficar contando pra cidade toda. Já pensou se minhas amigas ficam sabendo?

[IRMÃO, PARA A IRMÃ] Fica sossegada, irmãzinha, eu sou super discreto. Afinal, eu não contei pra Juliana que você dá o cu pro namorado dela. Como eu sei? Vieram me contar no futebol. Ela não curte, então, o namorado dela enraba você!

[FILHO, PARA A MÃE] E, desonra, mãe, foi o que a senhora fez com a pobre coitada da Lurdes. Quase foi demitida pelo papai porque não foi ela que derrubou o vaso ao lado da garagem. Foi a senhora que entrou feito uma alucinada. E ainda a mandou limpar o parachoque do carro.

[FILHO, PARA O PAI] Quanto ao senhor, meu pai, tem alguma moral pra falar em vergonha? O senhor fez aquele engenheiro reformar nosso sítio só para a Secretaria de Obras contratar os serviços dele e poder superfaturar os orçamentos.

****************

Qualquer semelhança com fatos (sempre tem alguém que conhece um caso safadeza em família ou entre melhores amigos), pessoas (como as mães que vivem de fazer caridade com a língua ferina da fofoca e da mentira) ou acontecimentos reais (igual ao caso recente do helicóptero que caiu no mar e trouxe das profundezas as ligações perigosas de um certo governador) terá sido mera fonte de inspiração para este texto. Nada mais!

sábado, 2 de julho de 2011

15. UM GALÃ DA TV... NA MINHA CAMA

Fui ver uma peça de teatro com um casal amigo. Divertida, com vários atores da TV, foi um bom programa para aquele sábado frio. Depois da peça, fomos a um bar próximo. Eu estava com uma fome absurda.
O bar estava cheio, não lotado. Sentamos numa mesa ao lado de uma grande, reservada para, descobri depois, os atores e produtores da peça.
Logo chegaram. Meus amigos estavam de costas para a mesa deles e eu de frente para ela. Um dos atores da peça, galã da TV, um dos campeões de correspondências, sentou-se bem em minha frente, de frente pra mim. Pude admirar como ele é bonito e que o sorriso é o mesmo da TV, só que a três metros de mim.
Meus amigos falavam dos planos das próximas férias, que queriam ir para a Europa.
Mesmo falando em tom normal, era possível que os assuntos fossem ouvidos. E o galã da TV percebeu que os dois amigos eram namorados. Talvez por isso começou a olhar mais para mim. Logo para mim.
Meus amigos iam esticar para uma balada. Eu, que adoro uma, não estava a fim de ir com eles. E ainda estava com fome. Pedi o cardápio. Quando percebi que o pessoal do teatro começou a ir embora também. Menos o galã da TV.
Ele, sozinho na mesa gigante, quando chegou o seu pedido (junto com o meu), deu um sorriso discreto pra mim, que foi retribuído. Eis que ele pega seu prato, vem até minha mesa e diz, com seu sotaque carioca carregadíssimo: “Posso ficar aqui? Aquela mesa está muito grande”.
Conversamos. E nosso lanche até esfriou. E o relógio girando. O galã da TV era uma pessoa, além de linda, agradável, com um bom papo. O bar ia fechar, e fomos gentilmente convidados a sair. Já tínhamos fechado a conta, levantamos e eu ofereci carona pra ele até seu hotel. Ele disse que era na rua de trás, mas aceitou.
Foi só entrar no meu carro, ele me deu um beijo. E que beijo! Longo, molhado, com paixão, com desejo. Confesso que dei conta do recado. Beijo é algo que não tenho modéstia. Gosto e beijo bem. E ele elogiou o meu.
- Deixa eu passar a noite com você?
- Mas, seu hotel...
- Na sua casa, não pode ser?
- O pessoal não vai estranhar?
- Eu tenho de estar de volta às cinco da tarde.
Acordei perto de meio dia e encontrei o galã da TV sentado na cama, sorrindo pra mim. Ao lado dele, uma bandeja com um belo café da manhã.
- Fui até a sua cozinha e preparei isso pra nós.
- Nossa! Quer me conquistar assim?
- Sim, quero. Porque você já me conquistou.
Café da manhã, banho, amor. Saímos para almoçar no shopping. De lá, fui levá-lo ao hotel. Ao chegar, ele me afagou o cabelo, tirou do bolso um ingresso da peça e disse para eu voltar à noite, que ele queria me ver na platéia.
E à noite lá estava eu. E eu percebi que ele me olhou várias vezes durante a encenação.
Quando acabou, uma pessoa pediu que eu aguardasse um instante. Ele, então, veio até a mim e me convidou para jantar.
- Mas você não vai pegar o avião pro Rio?
- Resolvi ficar essa semana em São Paulo. Não estou trabalhando em novela e não tem nada importante pra eu fazer no Rio esta semana.
- Vai ficar caro esse hotel. Mas gostei de saber.
O galã da TV pegou, sim, o avião para o Rio. No outro domingo. E na noite seguinte, eu estava em Congonhas. Esperando o galã da TV.

BREVE NO "MEIO A MEIO":
- Bando de hipócritas
- Entre irmãos
- (Des)Amor à distância, parte 2

domingo, 26 de junho de 2011

14. SEGREDOS PERVERSOS

PARADA GAY, SÃO PAULO, 2011

[Ele] Desculpe-me, querido, estava com um cara ali.
[Eu] Ah, sim! Aquele rapaz de azul. Sei quem é.
[Ele] Conhece ele?
[Eu] Conheço. Na verdade ele não. Conheço aquele cara de branco ao lado dele, ali.
[Ele] Ah, o amigo que veio com ele.
[Eu] Marido dele, você quis dizer, né?
[Ele] O que???????????????????????
[Eu] Sim, marido. Moram juntos há uns cinco anos.
[Ele] Como assim? A gente estava aos beijos, ao lado do cara?????
[Eu] Sim. Você foi o combustível da trepada que vão dar quando chegar em casa!
[Ele] Você tá inventando isso!
[Eu] Estou não, rapaz! Eu conheci o marido num site de relacionamentos. Saímos, fomos a um café, e bastou um papo pra ele perceber que eu não era como tantos carinhas fáceis que têm por aí. Aí ele abriu o jogo e contou o lance deles. Eles se excitam e apimentam a relação com essa coisa de seduzir outros caras.
[Ele] Cara, isso não existe!
[Eu] Existe sim. É um tipo de perversidade. A psicologia explica. Eu, como não sou psicólogo, não entendo essas coisas. Sou mais a linha “moço certinho”...
[Ele] Meu, mas ele parecia tão estar curtindo ficar comigo.
[Eu] É? E marcaram algum encontro pra outro dia?
[Ele] A gente ficou de ser ver.
[Eu] Muito vago pra quem, como você acabou de me dizer, te curtiu. Se ele curtiu mesmo, ele ia querer seu fone. E não dizer “a gente se vê”.
[Ele] Nossa! Tô muito puto! Você deve ter ficado quando soube, não?
[Eu] Fiquei, mas ao mesmo tempo, ele foi sincero. Ainda dava tempo.
[Ele] Estou com ódio, cara. Ódio. Imagino que eles ainda vão pegar vários caras aqui.
[Eu] Muito provavelmente.
[Ele] Você tem razão. Ele foi muito perverso...
[Eu] Ah, para, vai! Estamos na maior parada gay do mundo. Tirando a minha, tem três milhões e meio de bocas aqui pra você beijar. Bocas que trazem histórias e muitos segredos perversos de vida que você nem desconfia. E é bom nem ficar sabendo. Afinal, sua boca também é bem perversa e guarda um monte de segredos!

domingo, 19 de junho de 2011

13. COMO ME TORNEI UM GAROTO DE PROGRAMA (I)

"Seus truques e confusões
Se espalham pelos pêlos
Boca e cabelo
Peitos e poses e apelos
Me agarram pelas pernas"


Garotos 2 - Leoni


Nota do autor: baseado em fatos reais. Nomes e eventos alterados para preservar a identidade dos envolvidos.



Minha história não é muito diferente da de muitos garotos. Nem as justificativas. Tampouco as desculpas.
Advogado liberal pode ganhar muito dinheiro. Mas não tem férias, décimo terceiro e, se descuidar, não tem nem plano de saúde nem de aposentadoria. Felizmente meu pai tinha quando, de tanto trabalhar, enfiou o carro embaixo daquele caminhão na Marginal Tietê, naquele chuvoso fim de tarde de outubro. Foram meses de internação, tratamentos, cirurgias, remédios e, claro, falta de dinheiro em casa.
Eu estava indo para o terceiro ano de administração no Mackenzie. Assim como minha irmã que ia de metrô e trem para a USP, tive de deixar meu carro a semana inteira na garagem e encarar ônibus.
Não trabalhava. Eu me dedicava aos estudos. Era um aluno de notas 9 ou 10. Os colegas se estapeavam para estar na minha equipe nos trabalhos em grupo. Eu, particularmente, preferia fazer sozinho. Mas, quando começou o terceiro ano, eu precisava mais que um estágio, precisava de emprego pra ajudar nas despesas da família. Meu pai já se recuperava em casa, mas os clientes tinham sumido. Seria uma luta recomeçar. Dinheiro passou a ser contado a cada centavo. Eu não poderia desistir da faculdade. Nem era a vontade do meu pai. Sorte ter meu amigo Wagão (Wagner) que ajudava desde caronas na volta pra casa, até cópias de livros.
E o professor de Organização e Métodos (O e M), o mais temido do Mackenzie, exigiu que comprássemos um livro caríssimo. Quase trezentos reais. E não admitia cópias. “Se você não tem dinheiro para comprar um livro, não tem o direito de estudar aqui”. Naquela noite, Wagão saiu mais cedo. Subi a Consolação à pé para pegar, na Avenida Paulista, o ônibus para ir pra casa. Fui pensando. Tinha anotado quatro fones de empresas que anunciaram estágios no mural da faculdade. Mas eu precisava comprar o livro em uma semana. Onde eu ia arrumar quase trezentos reais?
Foi quando aquele carro preto parou no semáforo fechado na esquina. Que carro! Sempre gostei de carros. Não costumo perder nenhum Salão do Automóvel. Aquele carro era um sonho. Fiquei admirando-o. O semáforo ficou verde e o carro entrou à direita. Continuei subindo a Consolação. Quando eu estava ao lado do cemitério, o mesmo carro dos sonhos parou. O vidro abriu. Um senhor de aproximadamente 50 anos ao volante. Achei que ele fosse me perguntar alguma coisa sobre um caminho, mas...
- Oi, boa noite.
- Boa noite.
- Gostou do carro?
- Muito interessante. Está de parabéns!
- Está a fim de dar uma volta – percebi que ele olhava meu corpo.
- Entra, vamos dar uma volta, e depois, se quiser, podemos esticar no meu apartamento.
- C-Como?
- É! Não está a fim de um programa? Diga quanto você quer, que eu pago.
Terror, medo, excitação, tudo isso passou pela minha cabeça naquele momento. Apenas olhava aquele senhor que com certeza seria um alto executivo de alguma multinacional. Pensava no meu pai, no livro.
- Vamos, diga quanto você quer.
- Trezentos reais
.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

12. AS ESTRANHAS RAZÕES DO CORAÇÃO

Todo solteiro sonha encontrar um grande amor.
Todos nós temos pré disposição a conhecer alguém com algumas características que nos agradam em especial. Seja no aspecto físico, seja no olhar, no sorriso, nas idéias.
Quando encontramos a pessoa que agrupa algumas (ou muitas) dessas características, claro que ficamos mais antenados, mais atentos.
Permitimo-nos buscar conhecer esta pessoa melhor, de modo a nos permitirmos querer de alguma maneira fazer parte de sua vida.
E, se acontece o encontro, o som da voz, as expressões de seu rosto, a maneira como (nos) olha, e isso acaba nos agradando, a aproximação torna-se ainda mais latente e, se surgir a chamada "química", fica tudo (quase) perfeito.
Pois é. Comigo aconteceu. E não foi uma vez. Ou duas. Ou mesmo, três. Foram quatro. Isso mesmo, recentemente foram quatro pessoas que entraram em minha vida de alguma forma. Mas sua permanência não passou de uma noite.
Sim, isso me preocupa. E muito.
Claro que eu gostaria de viver, de novo, um grande amor. Ter uma companhia seja para um fim de semana no sofá, com pipocas e filme, seja para uma balada.
Sinto falta de alguém para ir ao supermercado fazer as compras da casa (da minha e da dele, por enquanto), comprar roupas, trocar presentes no dia dos namorados, dar ou receber presente de Natal ou aniversário ou aniversário de namoro, passear com meu cachorro pelas ruas de São Paulo, ficar de mãos dadas no cinema, passar protetor solar nas costas quando formos à praia, dormir de conchinha (e acordar "Channel" no dia seguinte), ligar sem motivo só pra dizer que estava pensando naquele momento, enfim.
Mas, como vou viver tudo isso se meu coração está se permitindo paixões efêmeras, "eternas de uma noite só", como se cada encontro fosse apenas (e não é) para a satisfação de um desejo, de um tesão, que não resiste aos primeiros raios de sol da manhã seguinte?
O que tem me servido de (algum) consolo é que as quatro pessoas que eu me permiti "algo a mais" também desapareceram. Seu MSN, antes sempre online para trocarmos longas conversas passou a sempre estar offline. Se antes, meu celular sempre tocava, ou quando eu ligava, sempre era atendido antes do terceiro toque, hoje ele sempre está fora de área, tampouco recebo torpedos. E é até bom, porque alguém do outro lado não se envolveu. Ou seja, não sofreria um sentimento que eu não teria para dar no dia seguinte.
O coração tem, sim, razões que a própria razão desconhece. E se o meu tem as suas, eu só sei de uma coisa: a partir de agora, eu vou buscar, nas minhas razões que EU conheço, aquelas que vão dar razão para ele não deixar sentimentos, oportunidades e possibilidades que acontecem num encontro, se dissolverem depois de uma noite de sexo e sono. Ficar só reclamando em nada resolverá. O importante é agir.
Eu quero ser feliz. E vou ser feliz ao lado de alguém feliz comigo. Então, querer é poder. Grande amor: aí vou eu!!!

terça-feira, 24 de maio de 2011

11. UM MONSTRO CHAMADO Lady Gaga

Assisti e gravei o especial LADY GAGA PRESENTS THE MONSTER BALL AT MADISON SQUARE GARDEN na HBO, por sugestão de meu amigo e blogueiro Carlos Roberto.
Neste concerto épico, a turma de Lady Gaga está perdida em Nova Iorque, buscando encontrar o local do show. Tentam chegar pelo metrô; através do Central Park, onde encontram o Monstro da Fama (e, numa sacada genial, a cantora apresenta a música Paparazzi); e finalmente encontram o Madison. Antes do show, Lady Gaga chora (!), lembrando que quando era criança, sua mãe a levava para ver shows de artistas que a criança Stefani Joanne gostava. E dali a alguns instantes, seria ela a ser ovacionada por milhares de pessoas.
Durante o concerto, com imagens em preto e branco, toda a movimentação de troca de roupas (seis) e retoques de maquiagem da cantora e bailarinos.
Enquanto via o concerto, fiquei pensando em duas coisas que sempre vejo nas reportagens, artigos, e qualquer coisa que se publique sobre Lady Gaga. A primeira é toda e qualquer referência ou citação a Madonna. E a segunda é sobre quanto tempo o fenômeno Lady Gaga vai durar.
Lady Gaga nunca escondeu ter sido fã de Madonna desde criança. Também que Madonna sempre foi uma inspiradora de sua carreira. Um ex namorado meu, que viu fragmentos do especial comigo, reconheceu tais referências a Madonna não apenas na música que encerra o show (Born this way), como nos cenários, e em até algumas posturas da cantora. Há também algumas ousadias, como louvar seu público (a quem ela chama carinhosamente de "pequenos monstros") e estimulá-lo a sempre realizar seu sonho, além de uma ode à causa gay, que culmina com um beijo ridiculamente técnico entre dois dançarinos ao final da música Alejandro. Durante o concerto, Lady Gaga refere-se a Madonna várias vezes, de maneira carinhosa ("aquela vadia").
Quando se fala no tempo que vai durar sua carreira, a resposta pode estar na capacidade de Lady Gaga produzir assunto.
É sabido que celebridades sobrevivem durante o tempo que provocam interesse em seus fãs. E Lady Gaga, só por existir, provoca este interesse. Não à toa, possui mais de 10 milhões de seguidores no Twitter. Lady Gaga já vestiu roupa composta por bifes, foi carregada pelo público quase nua e, recentemente (depois da gravação do concerto da HBO, que foi em maio), aplicou dois chifres na altura dos ombros.
Claro, os dez milhões de seguidores e outros tantos milhões espalhados pelo planeta, esperam novidades da popstar. Alguém acha que a indústria Lady Gaga vai parar de produzir novidades e provocar interesse?
Portanto, vida longa a Lady Gaga. Fãs que a manterão viva por muito tempo, ela tem de sobra. Não precisa que a mídia repita as mesmas perguntas sempre. Nem gaste laudas e mais laudas para não respondê-las. Talento ela tem. Seja no palco, na voz, nas letras que (sim) compõe, nas notícias que cria. Fora que é jovem. Tem uma longa estrada para percorrer. E quem sabe?, crescer junto com seus fãs, e conquistar outros a cada trabalho novo que produzir.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

ep. 10 - NAS MELHORES FAMÍLIAS

Guto não estava com a menor vontade de ir ao aniversário dos 80 anos da avó Aurora. Mas o pedido intimativo da mãe o convenceu. Iriam estar todos os filhos, netos, bisnetos e agregados num sítio alugado para a festa.
Guto morava em São Paulo desde os 12 anos. Quando o pai se aposentou e voltou pro interior, ele estava na faculdade e foi ficando, ao mesmo tempo em que perdera o contato com praticamente toda a família. Vez ou outra via, além da Vó Aurora, a tia Marlene, sua madrinha, e mãe de Tiago. Um moreno mirradinho, chato, que só chorava. Reencontrá-lo seria um porre.
Viajou na sexta à noite e às 10 da manhã do sábado, com os pais, chegava ao sítio. Logo em seguida, Beth, sua irmã, com o marido e seus três filhos. As únicas crianças que Guto realmente amava.
Vó Aurora estava linda, lúcida, feliz e bebendo uma cervejinha. Guto pegou uma garrafa de Itaipava e foi brindar com ela. A esfuziante tia Marlene chegou. Abraçou o sobrinho e quando uma parenta perguntou quando ele ia casar, Marlene respondeu por ele: “Casa não, meu sobrinho. Curta a vida lá em São Paulo. Eu digo isso pro Vinny: não case. Falando nisso, TIIIIIIIIIII, VEM CÁ!!!!!”
A tia chamou o primo chato. Foi quando duas emoções tomaram conta de Guto. A primeira, a visão daquele moreno lindíssimo, cabelos escuros, um sorriso lindo no rosto, abrilhantado por um par de olhos esverdeados hipnotizantes, um par de covinhas no rosto e um belo furo no queixo. A outra emoção foi a sensação de tê-lo visto em algum lugar. Os dois trocaram um forte abraço, sob as bênçãos de tia Marlene.
Guto tomava uma cerveja quando Tiago chegou para conversar...
- Bom ver você aqui. Há quanto tempo...
- Dezoito anos. Eu tinha doze quando fui pra São Paulo.
- Eu estou lá há seis. Fiz faculdade e agora trabalho.
- Mora onde lá?
- Pinheiros, perto da Faria Lima, e você?
- Paraíso, perto da Avenida Paulista... Está casado? Namorando?
- Não – Guto percebeu um certo desconforto no primo –, faz dois meses que terminei um namoro.





Guto estava curtindo a balada quando percebeu aquele rapaz olhando-o. Retribuiu o olhar com um sorriso. Ficaram na troca de olhares e sorrisos por alguns minutos. Ate que um moreno voltou do banheiro e beijou o rapaz, que passou a disfarçar as olhadas para Guto. O moreno era Tiago.





- Desculpe ter perguntado... Mas, mudando de assunto... Você era tão chato, tão magrelo, tão chorão – ele se lembrou do primo na balada, só precisava “dar o recado” – o tempo fez bem pra você. Está um belo homem – disse, olhando-o de cima a baixo.
- Obrigado – encabulou-se e olhou para o chão, onde foi procurar a coragem para dizer –, você também está muito bonito.
Churrasco rolando, crianças na piscina, os sobrinhos de Guto alugando deliciosamente o tio, ele pediu um tempo e foi sentar-se na varanda. Tiago estava lá.
- Cansou, primo?
- Já deu por hoje! Queria era dormir um pouco.
- Viaja amanhã?
- Sim, vou no ônibus das cinco.
- Eu sairei umas 8. Não quero pegar trânsito na chegada. Quer ir comigo?
- Eu já comprei a passagem!
Alguém se mete na conversa...
- Não se preocupe, Ti, seu pai vende a passagem – a onipresença de Tia Marlene é algo fascinante às vezes –. Eu vou ficar mais tranquila se você for com seu primo.
- Mas, mãe...
- Assunto encerrado! Guto, ele vai com você.
O que se desenhava um fim de semana enfadonho, de repente se transformava em algo deliciosamente surpreendente. Na hora de ir embora, uma conversa com a mãe:
- Filho, tome cuidado.
- Relaxa, mãe, vou até mais devagar.
- Estou falando do Tiago. Será que meu sobrinho vai virar meu genro?
- Se virar, a senhora será a primeira a saber.
- Ah, sei não, do jeito a Marlene é, acho que serei a segunda.
- Te amo, mãe – Guto abraçou-a com o mesmo calor da ansiedade pela viagem de volta a São Paulo.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

ep. 09 - "DEZESSEIS"

Fernando sai do banho, toalha na cintura. Abre o armário. “Uma camiseta azul ou a branca?” É quinta feira, A Loca vai bombar e ele vai se jogar na pista com as músicas do DJ André Pomba.
Fernando é conhecido na noite: um dos homens mais atraentes e também mais misteriosos de São Paulo. Cobiçado pelos que ainda não beijou, odiado por alguns a quem deixou claro que “era apenas um fast foda”, sabe que consegue quem quiser.
Pegou a chave do carro, o maço de Marlboro Light, o Halls, a carteira e foi.
No carro, um nécessaire com camisinhas, gel íntimo, escova de dente, escova de cabelos, creme dental, enxaguante bucal e um desodorante. Nunca sabe onde vai dormir. Sabe apenas que homem algum vai conhecer seu apartamento no bairro das Perdizes.
Fernando chega à balada quando ela está praticamente lotada, quase na hora do show. Faz parte de sua estratégia. E sente-se bem ao perceber que todos os homens lançam olhares de cobiça em sua direção. Agora é só escolher os que vai beijar.
E é assim toda quinta; toda sexta; todo sábado; todo domingo. Ninguém tem notícias de que ele tenha se ligado a algum homem. “Namorado? Quero é curtir a vida, é cedo pra me amarrar”, como se seus 28 anos permitissem variar bocas, corpos, bundas e paus ao seu bel prazer.
Fernando tem um único amigo em especial. Maurício, que já está perto dos 40 anos. Apesar da diferença, tanto de idade, como de comportamento, um compreende e aceita o outro. Enquanto Fernando é despachado e popular, Maurício é mais contido, tímido. Mas é quem fala aquilo que Fernando precisa, deve e nem sempre gosta e quer ouvir. E quem ouve todas as peripécias sexuais do amigo. Quando se conheceram, em 2006, Maurício, com 34 anos, se encantou por aquele então menino charmoso, moreno de olhos esverdeados, de 23 anos. Como nunca deixou esse sentimento transparecer, a amizade acabou prevalecendo e Maurício tinha Fernando como seu parceiro. Mesmo não compartilhando das mesmas idéias e dos mesmos programas, compartilhavam respeito e confidências. Algumas delas, tórridas demais!
Sexta feira. Fernando acordou na cama do rapaz que o levou à sua casa para terminarem o que começaram na pista da Loca. Tomou um banho, vestiu-se e foi pra sua casa para trocar a roupa. Ao chegar, resolveu ligar para Maurício. Atendeu uma mulher com voz embargada:
- Fernando? É a Deborah.
- Oi, Deborah, não sabia que estava em São Paulo.
- Maurício teve um enfarte no fim da noite de ontem. Faleceu no começo da madrugada.

O chão se abriu. Fernando desabou no sofá, incrédulo. Sentia-se frágil, desprotegido, inseguro. Não foi trabalhar. Viajou com Deborah para o interior. Acompanhou o funeral do único amigo que conquistara na vida. Na saída do cemitério, Deborah o abordou:
- Obrigado por tudo o que fez pelo meu irmão.
- Eu é que sempre vou agradecer pelo que ele fez por mim.
- Mas eu estou falando do que você fez: ele sempre o amou, Fernando, e mesmo você não estando apaixonado por ele, nunca o descartou, nunca o considerou um estorvo.
- Como assim? Você quer dizer que Maurício...
- Ele era louco por você, Fernando. E por você nunca tê-lo abandonado por isso
– Deborah o abraça – eu só tenho a agradecer por não deixar meu irmão sofrer.
Sozinho, no carro, na volta para São Paulo naquele fim de tarde de sábado, Fernando pensava nas palavras de Deborah. Sentia-se idiota.
Fernando amava Maurício em silêncio. Tantos homens, tantos beijos, tantas bocas, tantas trepadas. Nenhuma era a de Maurício. E, na falta de coragem de declarar seu amor ao amigo, não fora capaz de perceber o amor que Maurício lhe dedicava.
“Eu ainda tenho uma chance. Maurício, meu amor, me espere. Vou te encontrar e vamos ser eternamente felizes”.
Fernando aumentou o volume do rádio. Tocava, coincidentemente, a música “Dezesseis”, da banda Legião Urbana. Acelerou o carro. Logo adiante, uma curva. Para encontrar Maurício, Fernando seguiu em frente. Com um sorriso que nascia entre as lágrimas que corriam pelo seu rosto. "Strawberry Fields Forever"

domingo, 24 de abril de 2011

ep. 08 - UMA FILHA PRA CHAMAR DE MINHA

Foi numa balada em São Paulo que André e Vagner se conheceram. A troca de olhares, seguida de um papo, beijos e a noite na cama de Vagner. Aos despedir-se, sabiam que aquele tinha sido apenas o primeiro encontro.
E houve muitos, onde permitiram que o encantamento se transformasse em paixão. Vagner aceitou o pedido de namoro de André.
O namoro fortalecia a cada dia, a cada beijo. André tinha perdido os pais há algum tempo foi recebido como filho na família de Vagner. Só o irmão de André não o aceitava. Pouco tinha contato. Ainda mais depois que o irmão casou e teve filhos.
André e Vagner eram mais que companheiros, eram parceiros, cúmplices. Seja para um filme a dois no sofá quanto a uma noitada de baladas que só ia terminar depois do meio dia num dos muitos after que aconteciam pela cidade. Em dois anos, estavam morando juntos num amplo apartamento comprado por André, no bairro das Perdizes.
Combinaram as férias para viajar juntos, embora a arquitetura os levasse para Ilhas Gregas, Ibiza, Inglaterra, Caribe, Malásia, África do Sul. Conheceram o mundo. Até se sentirem prontos para aumentar a família.
A batalha judicial foi ganha e Mariana, com dois anos, foi adotada. E desde cedo foi acostumada a ter dois pais e a conhecer o que era o homossexualismo. Isso foi fundamental para que ela se safasse de algumas atitudes de bullying na escola. Desde pequena se safou de ser chamada de filha de duas bichas na escola onde conseguiu estudar, já que muitos grandes colégios não a aceitaram por ser filha de dois pais.
A festa de 15 anos de Mariana foi num dos buffets mais tradicionais de São Paulo e rendeu até seis páginas na revista Caras.
Aos 18, Mariana entra na USP. Contrariando os pais, ela vai estudar Psicologia e se especializa em Psicologia Comportamental Familiar, sendo aprovada com louvor e méritos, para orgulho de Vagner e André. Na valsa, metade da música Mariana dançou com André para, em seguida, ir para os braços de Vagner. Os presentes se encantaram. E no baile que conheceram Juarez, o namorado de Mariana. Foi quando o ciúme que sentiram da filha mostrou a eles que ela havia se tornado uma bela mulher.
De início os pais de Juarez não foram simpáticos àquele relacionamento, mas bastou conhecer os pais de Marina no jantar de noivado para saberem que o filho seria marido de uma mulher maravilhosa, de educação exemplar e, acima de tudo, digna.
E foi assim, tal qual a escola, depois de muita recusa, o casamento foi realizado numa igreja do Centro de São Paulo. E na entrada da noiva, poucos prestaram atenção à marcha nupcial, já que Mariana entrou abraçada aos dois pais, sendo aplaudida pelos convidados às lagrimas da porta ao altar.
Nas próximas férias, tal qual a música “Eduardo e Mônica”, da banda Legião Urbana, André e Vagner não vão viajar. Estarão babando o neto Vagner André que acaba de nascer.

Até quando esta estória será apenas ficção?

terça-feira, 19 de abril de 2011

ep. 07 - BUT IT'S (not) OVER NOW

It must have been love - Roxette.
Show em 14/04/2011 - Credicard Hall - São Paulo


Lay a whisper on my pillow; leave the winter on the ground.
I wake up lonely; there’s air of silence in the bedroom
And all around, touch me now; I close my eyes and dream away


Um dia, aquele homem, de camiseta branca, atravessou a rua ao meu encontro.
Um dia, aquele homem, de camiseta branca, deitou em meu colo.
Um dia, aquele homem, de camiseta branca, provocou meus pensamentos.
Um dia, aquele homem, de camiseta branca, despertou meu amor.

It must have been love, but it’s over now
It must have been good, but I lost it somehow.
It must have been love, but it’s over now
From the moment we touched ‘til the time had run out


Aquele homem tinha outro em seu coração, mas eu fui persistente.
Conquistei os pensamentos daquele homem que sonhava voar.
Fiz de meu coração um (aero)porto seguro para aquele homem que buscava as estrelas.
Aquele homem que lhe cortaram as asas.

Make believe, we’re together that I’m sheltered by your heart
But in and outside I’ve turned to water like a teardrop in your palm
And it’s a hard winter’s day I dream away


O que nos levou a nos agredirmos? Seriam as cicatrizes que trouxemos?
As frustrações que vivemos? O medo de amar? O medo de nos entregarmos ao amor?
Por que o medo nos fez ferir quem amávamos?
Por que mutilamos o desejo de nos entregarmos?

It must have been love, but it’s over now
It was all that I wanted; now I’m living without
It must have been love, but it’s over now.
It’s where the water flows. It’s where the wind blows.


Que barreira é essa que há entre nós? Barreira que impede que nos entreguemos?
Por que conseguimos entrar em nossos pensamentos, mas não em nossos corações?
Juntos, cantamos uma música que nosso coração não quer ouvir.
Nosso coração silencia, mas o olhar quer cantar IT’S NOT OVER NOW.

sábado, 9 de abril de 2011

ep. 06 - NÃO DEU CERTO?

Estava num bar com um conhecido quando um amigo dele chegou. Fomos apresentados e os dois falaram do fim do relacionamento de sete anos do rapaz.
- E como você está?
- Estou levando, reaprendendo a ser solteiro.
- Toma cuidado, não enfie o pé na jaca.
- To legal. O pior já passou. Pena que não deu certo.
Isso foi assunto para quase a noite inteira de conversa entre mim e meu amigo depois que o rapaz foi embora.
Como assim, “não deu certo”? Um sujeito de uns 35 anos que passa 20% de sua existência ao lado de alguém, dizer que “não deu certo”, é estranho pra mim.
Não foram sete segundos (o tempo de uma troca de olhares), sete minutos (o tempo de um flerte), sete horas (o tempo de uma noite), sete dias (o tempo de um test drive), sete semanas (o tempo de um rolo) ou sete meses (o tempo de um namorinho). Foram S-E-T-E anos.
E em sete anos, quantos presentes de dia dos namorados eles trocaram?
Quantos chocolates na páscoa?
Quantas noites dormiram de conchinha?
Quantas vezes um cuidou do resfriado ou da gripe do outro?
Quantos filmes viram um apoiado no ombro do outro no cinema?
Quantos DVDs assistiram deitados na cama ou no sofá da sala?
Quantas vezes aplaudiram em pé os atores da peça de teatro que viram juntos?
Quantas vezes viajaram juntos?
E ao volante, quantas vezes um acariciou os cabelos ou a perna do outro enquanto este dirigia?
Quantos Natais trocaram presentes?
Quantas vezes curtiram o sol numa praia?
Quantas vezes almoçaram na casa das mães?
Quantas vezes foram ao supermercado comprar ingredientes para o jantar que um fez para o outro?
Quantas noites dormiram de conchinha?
Quantas vezes tomaram banho juntos?
Quantas vezes o esperma de um esteve dentro do corpo do outro, como a mais profunda prova de confiança e amor?
E, falando em amor, quantas vezes disseram “Eu te amo”?
Claro que o relacionamento deu certo sim. Durante sete anos deu certo. Não acredito que eles tenham percebido que seria difícil nos primeiros dias e tentado tanto tempo consertar. Ninguém tem essa paciência quando existe incompatibilidade.
Infelizmente o ser humano tem uma predisposição a valorizar situações erradas em sua vida. Como se fosse exigido que tudo fosse sempre do jeito que gostaríamos que fosse o tempo todo. Por isso, uma tendência muito grande, quando se pensa em relacionamentos passados, sempre deixar vir à cabeça o fim, o término, o sofrimento.
Eu faço parte deste grupo de pessoas, mas estou tentando ser menos cruel comigo mesmo.
Tentando não fazer do término dos relacionamentos anteriores, o portal para as boas lembranças do que vivemos durante o tempo que namoramos. Dar mais valor a tudo que marcou positivamente. Afinal, como cantou a banda Titãs: “Não tenho tempo a perder, só quero saber o que pode dar certo”.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

ep. 05 - (DES)AMOR À DISTÂNCIA - parte 1 - o abismo


Quando Andréa conheceu Fernanda, esta estava no começo da faculdade. Paixão à primeira vista. Tão diferentes, mas tão tolerantes, a paixão evoluiu para uma linda história de amor. Andréa gosta da noite. Fernanda prefere um DVD com pipocas (mesmo que tenha dormido em quase 100% dos filmes que se propuseram a ver juntas). Fernanda só ficava acordada para fazer, na casa de Andréa, trabalhos da faculdade. Fernanda não tinha computador, e Andréa deixava Fernanda usá-lo.
O tempo passou, a faculdade terminou, e Fernanda foi tentar a sorte em São Paulo, com total apoio de Andréa. Junto com dois colegas da faculdade, alugou um apartamento próximo à rua Frei Caneca. Seria este grupo e outros três morando relativamente perto a prolongar a atmosfera universitária.
Feriado prolongado. Andréa vai a São Paulo visitar Fernanda. Esta reclama estar sem dinheiro. Andréa ouve, mas sabe que lá vai dar um jeito de arrastar Fernanda nem que seja para tomar uma coca cola na mesa de algum bar gay. Quando Andréa está saindo para encarar a estrada, Fernanda liga perguntando se ela ia demorar, pois um colega de seu apê a chamou para ir a um happy hour e queria estar de volta quando a namorada chegasse. Andréa estranhou Fernanda ir, pois reclamou a semana toda da falta de dinheiro.
Logo que Andréa chegou, primeiro os beijos de saudade, em seguida o amor aguardado, e carinhos. Depois foi buscar no carro o resto da mudança de Fernanda e contou a novidade: ia começar uma pós graduação dali a um mês.
Ao acordarem no dia seguinte, Fernanda passou o roteiro do fim de semana: Almoço na Benedito Calixto, um bar da Vila Madalena à noite, almoço no apê de uns amigos no outro dia, uma balada à noite. Andréa não negou fogo em nenhum programa.
Na balada, Fernanda tão carinhosa, tão apaixonada. Na pista, ao som de uma música dançante, uma declaração de amor eterno ao pé do ouvido, entre beijos e abraços, que provocou arrepios. Aquela era, sim, a mulher com quem queria envelhecer junto.
O fim de semana passou e Andréa preparava a volta. Almoçou com Fernanda e saiu para encher o tanque do carro. Ao voltar, encontrou Fernanda, às lágrimas.
Ela estava terminando o relacionamento de três anos. Esperou o fim de semana inteiro para isso. Não deu uma explicação convincente. Dizia frases soltas: estava insegura com sua situação de começar a batalhar numa cidade grande, morava numa região onde a tentação estava em todas as esquinas (para quem não sabe, na região da rua Frei Caneca moram muitos gays – homens e mulheres – de São Paulo) mas fez questão de frisar que a distância de Andréa seria cruel, já que ela, pra atrapalhar, inventou uma pós graduação e não poderia vê-la frequentemente, já que as aulas seriam aos finais de semana.
“Inventei uma pós?” Andréa saiu arrasada do apartamento de Fernanda. Não chorou. Não conseguiu. Mas entrou na entrada com duas palavras cravadas em sua cabeça (POR QUE) e uma interrogação (?) pendurada por uma corda enfiada em seu coração, puxando-a para um abismo.





(Continua daqui a alguns posts)

domingo, 3 de abril de 2011

ep. 04 - A CERVEJA E O CIGARRO

Numa semana onde o falastrão Jair Bolsonaro ganhou, de novo, as páginas de jornais, redes sociais, e virou assunto nos quatro cantos, o que mais me assusta é saber que o preconceito para com homossexuais não parte somente de quem não tem essa condição.
Infelizmente os gays são também preconceituosos e, muitas vezes, agem de forma a humilhar, retaliar e, por que não?, anular outro gay.
Em sites de relacionamento, corpos trabalhados em anos de academia de ginástica (e bomba, em muitos casos) fazem o diferencial e sublinham que a busca deve ser entre iguais.
Cidades grandes, como São Paulo, amizades são construídas entre próximos. Existem, e são muitos, mas sempre haverá um distanciamento entre um homem que more na Penha e outro que more na Lapa. E não apenas distanciamento geográfico.
Fora quando um piercing, uma tatuagem, a música que ouve, a balada que frequenta, o jeito que fala, uma etiqueta de grife famosa e cara na roupa, a marca/modelo/ano do carro que dirige (isso se tiver carro) podem significar a aceitação ou rejeição de uma pessoa por um grupo. Caráter e dignidade ficaram para segundo plano. São bonitos na retórica: todo mundo diz valorizá-los. No entanto, suas atitudes seguem em caminhos opostos.
Isso em pleno século XXI.
E foi numa noite de sábado, do quarto mês, do primeiro ano, da segunda década do século XXI que essa cena aconteceu:
Dois homens se olham, se paqueram, mas não se aproximam. Tempos depois, outro encontro, outra troca de olhares, sem aproximação. Mais tarde, bem mais tarde, um deles fuma um cigarro no terraço quando o outro, que estava com seus amigos, alterado pelas várias garrafas de cerveja consumidas, aproxima-se e num tom acima do normal, para ser ouvido, diz ao que fumava:
- Você é lindo, tem uma boca gostosa que eu adoraria beijar. Pena que você fuma. Eu odeeeeeeeeeeeio cigarros.
Como se ajudado pelos espíritos protetores, o que fumava (e só bebido refrigerante e água) responde:
- Eu não beijaria você por duas razões. A primeira: você não faz meu tipo. É feio de doer. E a segunda: Eu detesto bafo de cerveja.
As várias pessoas que estavam no local ficaram em silêncio. Algumas espantadas, outras cutucando os amigos e apontando na direção dos dois.
Mas todas, certamente, divertindo-se com tamanha demonstração dupla de idiotice.
O preconceito está por aí. Embaixo de tampinhas de garrafas de cerveja. Voando na fumaça de um cigarro.

quarta-feira, 30 de março de 2011

ep. 03 - TRANSAS E CARETAS *

NUM BAR DA REGIÃO DA RUA AUGUSTA, SÃO PAULO, SEXTA FEIRA, POR VOLTA DE 10 DA NOITE. “ESQUENTA” ANTES DA BALADA.

- Hoje eu quero passar o rodo naquela balada.
- Eu vou ficar contente se conhecer um cara legal.
- Vindo de você... Tá achando que vai achar seu marido hoje à noite?
- Não, nem tenho esta pretensão, mas quero encontrar alguém legal. Conversar, entre um beijo e outro, saber o que pensa, o que...
- [Interrompendo] Você com essa mania romântica e chata, pelo amor de Deus!
- Chata por que? Não vou ficar com você!
- Essa coisa de “amor eterno de uma noite só” faz você e ele perderem tempo. Você nem vai levar o cara pra tua casa.
- Não mesmo, não levo desconhecidos pra minha casa!
- Você deveria se permitir mais.
- Eu me permito aquilo que eu estou a fim.
- Mas não é legal.
- Não é legal pra quem?
- Eu não conseguiria.
- Por isso que você vai beijar vários, né?
- Com toda a certeza!
- E vai encher a cara para isso, não?
- Também não sou assim, uma puta, né? Não de cara limpa. Por isso vou beber!
- Pra não lembrar de vários amanhã?
- Eu quero que se foda, e até rolar uns sarros nos cantos escuros. Quero enfiar a mão dentro da calça de vários caras gostosos.
- Ah, e tudo isso sem camisa!
- Você acha que eu malho há anos pra que? Meu peitoral sarado chama a atenção dos homens. Você não precisa, já tem um corpo bonito!
- Eu ainda prefiro um homem que tire a roupa só pra mim.
- E de que adianta querer um homem que fique nu para você, se vai voltar pra casa sozinho, vai dormir sozinho, vai acordar sozinho e passar o sábado sozinho, se preparando pra repetir tudo isso amanhã à noite?
- Lógico, e o esquenta será de novo com você...
- Sabe? Apesar desse seu jeito todo comportadinho, eu gosto pra caramba de você! Acho que é o único amigo que eu tenho que verdadeiramente me compreende, não me pede nada em troca da amizade, sei que posso contar sempre...
- Do mesmo jeito que eu sei que sempre conto contigo.
- Apesar das diferenças, amigos!
- Amigos.
- Vou comprar uma cerveja pra gente brindar.
- Brindo com guaraná. Traga um pra mim!

* Novela de Lauro César Muniz, exibida na Globo em 1984 às 7 da noite. Contava a estória de Thiago (José Wilker) e Jordão (Reginaldo Faria), irmãos. O primeiro, todo moderno, transado, à frente do seu tempo. O segundo, tradicional, um verdadeiro caretão. Mesmo irmãos, totalmente diferentes. Mesmo diferentes, sempre unidos. Até quando se apaixonaram pela mesma mulher, Marília (Natália do Vale).

domingo, 27 de março de 2011

ep. 02 - "O JEITO É..."

Quando eu parei pra prestar atenção à música do Michel Telló, "Fugidinha", na hora me veio a certeza: a letra tem muitos indícios gays.

1. Isso é típica coisa de quem está no armário. Construiu uma imagem para os outros, quando na verdade esconde quem é de fato.
2. Gay, quando não quer se entregar, refere-se à sua paquera, ou seu/sua parceiro (a) de forma genérica, utilizando o termo PESSOA.
3. Por que ninguém pode saber? Alguém que esteja solteiro ou solteira pode ficar com quem quiser, certo? Desde que com quem for ficar não seja comprometido/a, o que aqui não parece ser o caso.
4. Todo gay sonha em viver longe de tudo e todos que conhece para poder viver seu amor sem cobranças.

Leia a letra da música.

Tô bem na parada
Ninguém consegue entender
Chego na balada
Todos param pra me ver
Tudo dando certo
Mas eu tô esperto
Não posso botar tudo a perder (1)

Sempre tem aquela
Pessoa (2) especial
Que fica na dela
Sabe seu potencial
E mexe comigo
Isso é um perigo
Logo agora que eu fiquei legal

Tô morrendo de vontade de te agarrar
Não sei quanto tempo mais vou suportar
Mas pra gente se encontrar
Ninguém pode saber (3)
já pensei e sei o que devo fazer

O jeito é dar uma fugidinha com você
O jeito é dar uma fugida com você
Se você quer
Saber o que vai acontecer
Primeiro a gente foge (4)
Depois a gente vê.

sábado, 12 de março de 2011

ep. 01 - SINAL FECHADO

ESTE TEXTO É PURA FICÇÃO. QUALQUER SEMELHANÇA COM FATOS, PESSOAS OU ACONTECIMENTOS REAIS, É PORQUE ACONTECEU COM ALGUÉM.

Avenida Nove de Julho, São Paulo. Um domingo qualquer do inverno de 2010, 4 horas da tarde.
Rui retornava da casa de Ronaldo, seu namorado havia 7 anos. Dormira lá. Mais uma noite. Jantaram e depois curtiram uma balada que foi terminar de manhã em mais uma transa alucinante.
Rui não está plenamente satisfeito. Há uns bons meses Ronaldo recusa-se a ser passivo. Por mais que Rui quisesse, pedisse, Ronaldo estava irredutível. Dizia sentir-se mais à vontade sendo o ativo. O relacionamento até melhorara. Ronaldo estava ainda mais apaixonado, mais atencioso, mais presente, mais carinhoso, mais cuidadoso.
Mas só ser passivo começava a incomodar Rui.
Ele percebera que reparava mais nos bolsos de trás das calças e bermudas dos garotos que vê na rua, no cinema, nas baladas.
Sim, seu pau sentia falta de uma bunda gostosa. Ainda que bunda nenhuma de São Paulo fosse tão gostosa quanto a de Ronaldo. Aliás, homem nenhum em São Paulo era tão sedutor e apaixonante quanto Ronaldo.
O semáforo de um dos cruzamentos fecha. Rui para ao lado de um carro e ele percebe que o motorista olha pra ele. Rui não desvia o olhar. A troca de sorrisos discretos surge e em seguida um sinal. Rui consegue pensar em Ronaldo, mas de repente quem está conversando com aqueles olhos no carro ao lado é seu pau. “Que mal tem, se ele não souber de nada? Vai que o cara é passivo?” – pensou.
O sinal abriu e eles foram emparelhados até um cruzamento onde entraram e pararam os carros. Apresentaram-se e... bingo!, o rapaz era realmente passivo. E, melhor, morava só! Rui aceitou o convite para ir à casa do rapaz!
Março de 2011. Ronaldo e Rui já fizeram 8 anos de namoro. Cada vez mais apaixonados, felizes, românticos e carinhosos. Mas Rui continua prestando bastante atenção ao carro do lado toda vez que o semáforo fica vermelho.