domingo, 19 de junho de 2011

13. COMO ME TORNEI UM GAROTO DE PROGRAMA (I)

"Seus truques e confusões
Se espalham pelos pêlos
Boca e cabelo
Peitos e poses e apelos
Me agarram pelas pernas"


Garotos 2 - Leoni


Nota do autor: baseado em fatos reais. Nomes e eventos alterados para preservar a identidade dos envolvidos.



Minha história não é muito diferente da de muitos garotos. Nem as justificativas. Tampouco as desculpas.
Advogado liberal pode ganhar muito dinheiro. Mas não tem férias, décimo terceiro e, se descuidar, não tem nem plano de saúde nem de aposentadoria. Felizmente meu pai tinha quando, de tanto trabalhar, enfiou o carro embaixo daquele caminhão na Marginal Tietê, naquele chuvoso fim de tarde de outubro. Foram meses de internação, tratamentos, cirurgias, remédios e, claro, falta de dinheiro em casa.
Eu estava indo para o terceiro ano de administração no Mackenzie. Assim como minha irmã que ia de metrô e trem para a USP, tive de deixar meu carro a semana inteira na garagem e encarar ônibus.
Não trabalhava. Eu me dedicava aos estudos. Era um aluno de notas 9 ou 10. Os colegas se estapeavam para estar na minha equipe nos trabalhos em grupo. Eu, particularmente, preferia fazer sozinho. Mas, quando começou o terceiro ano, eu precisava mais que um estágio, precisava de emprego pra ajudar nas despesas da família. Meu pai já se recuperava em casa, mas os clientes tinham sumido. Seria uma luta recomeçar. Dinheiro passou a ser contado a cada centavo. Eu não poderia desistir da faculdade. Nem era a vontade do meu pai. Sorte ter meu amigo Wagão (Wagner) que ajudava desde caronas na volta pra casa, até cópias de livros.
E o professor de Organização e Métodos (O e M), o mais temido do Mackenzie, exigiu que comprássemos um livro caríssimo. Quase trezentos reais. E não admitia cópias. “Se você não tem dinheiro para comprar um livro, não tem o direito de estudar aqui”. Naquela noite, Wagão saiu mais cedo. Subi a Consolação à pé para pegar, na Avenida Paulista, o ônibus para ir pra casa. Fui pensando. Tinha anotado quatro fones de empresas que anunciaram estágios no mural da faculdade. Mas eu precisava comprar o livro em uma semana. Onde eu ia arrumar quase trezentos reais?
Foi quando aquele carro preto parou no semáforo fechado na esquina. Que carro! Sempre gostei de carros. Não costumo perder nenhum Salão do Automóvel. Aquele carro era um sonho. Fiquei admirando-o. O semáforo ficou verde e o carro entrou à direita. Continuei subindo a Consolação. Quando eu estava ao lado do cemitério, o mesmo carro dos sonhos parou. O vidro abriu. Um senhor de aproximadamente 50 anos ao volante. Achei que ele fosse me perguntar alguma coisa sobre um caminho, mas...
- Oi, boa noite.
- Boa noite.
- Gostou do carro?
- Muito interessante. Está de parabéns!
- Está a fim de dar uma volta – percebi que ele olhava meu corpo.
- Entra, vamos dar uma volta, e depois, se quiser, podemos esticar no meu apartamento.
- C-Como?
- É! Não está a fim de um programa? Diga quanto você quer, que eu pago.
Terror, medo, excitação, tudo isso passou pela minha cabeça naquele momento. Apenas olhava aquele senhor que com certeza seria um alto executivo de alguma multinacional. Pensava no meu pai, no livro.
- Vamos, diga quanto você quer.
- Trezentos reais
.

11 comentários:

Andre Chalegre disse...

Nossa! o fim dá margem a continuar a historias com as fantasias de quem o lê. Otimo! Alem de relatar um fato triste q se mescla com um tom sedução

Anônimo disse...

Eu adoro estas historias. RSRS
Eu ja trabalhei de Hoster aqui em Tokyo por algum tempo. Era acompanhante em algums jantares. Uma hora eu cansei...me senti vazio.
Mas acho fascinante estas historias.

Anônimo disse...

Certa feita fiz isso... foi horrível... chegeui em casa e fiquei por horas lavando o corpo!!! Vale pela experiencia!

Wyndson disse...

Puta que pariu... ADOREI... Simples e de muitooooooo bom gosto... Infelizmente as vezes acontece assim... kkk
Parabéns...

Rapha disse...

Uma vez um velho horroroso colocou a cabeça me ofereceu 20 reais pra pagar um boquete pra ele... Não aceitei, é claro. Mas fiquei me sentindo mal só pela proposta... =S

Anônimo disse...

pensando como ele deve estar hj...

Marcos Pinheiro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Gabuh disse...

ai, gente. eu exijo a continua dessa história. vai, moço! já tô aqui de pau duro. quero detalhes. JÁ!

Fred disse...

300? Aceita master????
Hahahahahahha!
Continua, fio... continua!!!!!

Latinha disse...

Bom... são decisões e escolhas...
E que venha a continuação!!!

Abração

Lih disse...

kd a continuação? to esperando ha um tempão! ou acaboiu aki? bjooo